quinta-feira, 20 de abril de 2023

A primeira crise. E grave!

 

Com pouco mais de 100 dias, o Governo Lula enfrenta a sua primeira crise, que tende a se agravar a depender das consequências da queda do agora ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Gonçalves. Primeiro cabeça do escalão superior do Governo a rolar, Gonçalves foi forçado a deixar o Governo após aparecer em imagens do circuito interno de TV do Palácio do Planalto sem confrontar invasores que depredaram o prédio nos ataques golpistas de 8 de janeiro.

O episódio já gerou um problemão para o Governo: Lula terá que enfrentar no Congresso os efeitos da primeira CPI Mista, de investigação dos atos de 8 de janeiro, que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ameaçou fazer a sua leitura na última terça-feira, mas teve que suspender por pressão do próprio presidente da República. Deputados da própria base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudaram de posição em relação à investigação.

Eles passaram a defender a instalação da CPMI logo após a aparição das imagens do ex-ministro no caso. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) disse que “o fato de hoje” mudou a posição do governo sobre a CPMI. “Se o presidente (do Congresso Rodrigo Pacheco) ler CPMI e partidos quiserem, vamos estar dentro”. Guimarães também afirmou que o governo será o primeiro a indicar membros da comissão. “Queremos apuração ampla, geral e irrestrita, doe em quem doer. Se o Congresso quiser instalar CPMI, estamos prontos para ajudar, inclusive para investigar”

Mais cedo, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), vice-líder do governo na Câmara, defendeu que a CPMI poderia afetar Bolsonaro e sugeriu o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres, preso desde janeiro, como um dos primeiros nomes a depor na CPMI. “Ganhou força do nosso lado a tese dos que defendiam que a CPMI era boa desde o começo. Essa CPMI vai ser uma dor de cabeça para Bolsonaro, para deputados bolsonaristas. É uma mudança de página. Agora é ir para a CPMI para a ofensiva política”, disse Lindbergh.

Oposição na euforia – A oposição concentra todos os esforços para que seja feita a leitura do requerimento da CPMI, de autoria do deputado André Fernandes (PL-CE). A estratégia parte de encontrar uma responsabilização do governo federal, que teria conhecimento prévio das manifestações e preferiu não reforçar a segurança do entorno da área dos Três Poderes. Enquanto o governo adiava a sessão do Congresso, deputados bolsonaristas usaram das comissões para pressionar ministros sobre o 8 de janeiro.

O “furão” começou neste blog – Leandro Magalhães, o repórter que abalou a República petista com o furo de ontem, na CNN Brasil, é pernambucano do Recife. Começou como “foca” (repórter iniciante) neste blog. Quando se transferiu para Brasília, passou a atuar na TV-Nova, contratado por Pedro Paulo. Talentoso e competente, rapidamente virou repórter de rede da TV-Cultura de São Paulo, a quem a TV-Nova era afiliada. Deu tantos furos que na chegada da CNN ao Brasil foi contratado pela emissora como repórter setorista do Palácio do Planalto. Foi ele quem arrancou a primeira entrevista exclusiva de Bolsonaro na volta ao Brasil depois de uma temporada nos Estados Unidos.

Lula acredita em traição – Lula disse a assessores, ontem, que acredita na versão apresentada por Gonçalves Dias para o vídeo com imagens suas no Palácio do Planalto durante a invasão por golpistas. Na versão apresentada ao presidente, o general sustentou que chegou ao Planalto quando a invasão já havia sido consumada. Para o presidente, Gonçalves Dias foi traído por subordinados e por colegas de farda que apoiavam e ainda apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro. A traição teria ocorrido não só durante a invasão, como também com o próprio vazamento das imagens.

PF antecipa convocação – A Polícia Federal antecipou o depoimento do ex-ministro-chefe general Gonçalves Dias, sobre os atos criminosos do dia 8 de janeiro. Segundo relatos, nos 81 depoimentos já coletados de militares sobre os atos, os investigadores já haviam ouvido sobre a suposta negligência de Gonçalves Dias na invasão ao Planalto. A divulgação das imagens reacendeu discussões, entre aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sobre uma eventual extinção do GSI.

Exoneração publicada – O Governo Federal publicou, ainda na noite de ontem, em edição extra do Diário Oficial da União, a exoneração do general Gonçalves Dias. Além dele, o governo também exonerou a pedido o general Ricardo José Nigri, que ocupava o cargo de secretário-executivo do GSI. Ele era o “número 2” do órgão. Com a demissão de Dias, Ricardo Capelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça, assumirá o comando do GSI de forma interina. Capelli foi interventor de Segurança Pública do DF após os ataques de 8 de janeiro. A nomeação de Capelli também foi publicada na edição extra do Diário Oficial, nesta quarta-feira.

CURTAS

SIGILO – O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) colocou sigilo de 5 anos sobre os vídeos dos ataques golpistas ao Palácio do Planalto em 8 de janeiro. Inicialmente, o GSI até divulgou alguns vídeos do circuito interno, como o que mostra a destruição de obras de arte. Mas, depois que chegaram pedidos para todo o material, via Lei de Acesso à Informação, o GSI declarou o sigilo.

LONGA DATA – Lula e Gonçalves Dias se conheceram durante o período de transição entre o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o primeiro mandato do petista. Na ocasião, Gonçalves Dias era funcionário do GSI, que havia sido criado em 1999. A partir disso, Lula decide colocá-lo na chefia de sua segurança pessoal. No cargo, ele ganhou o apelido de “GDias” e para os mais íntimos de “Sombra”, por estar sempre perto do presidente.

Perguntar não ofende: Lula conseguirá fugir da CPI Mista?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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