Lula deveria se espelhar em Itamar

O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, informou em nota, ontem, que devolveu o dinheiro de diárias recebidas irregularmente para cobrir despesas de uma viagem a São Paulo que teve como agenda principal compromissos particulares, mas não informou se também irá devolver as despesas com o avião da FAB que o trouxe de volta a Brasília quando não estava em serviço, contrariando as regras sobre o uso das aeronaves.

A decisão ocorre três dias após o jornal Estadão revelar que, dos quatro dias de viagem, em três deles o ministro se dedicou a negócios relacionados aos seus cavalos de raça. Juscelino foi a dois leilões, a uma festa em homenagem aos cavalos e inaugurou uma praça dedicada ao Roxão, um animal de seu sócio. Todos os compromissos envolvendo cavalos foram omitidos da agenda oficial do ministro.

Na inauguração da praça, ele foi anunciado como integrante da “equipe do presidente da República”. A presença de um ministro de Estado também foi destacada pelos leiloeiros nos eventos equestres. Na nota, o ministro admitiu que sua agenda de trabalho em São Paulo se limitou a dois dias Sobre o uso da FAB na volta para Brasília na segunda-feira, o ministro disse na nota que “retornou em voo compartilhado solicitado pelo Ministério do Trabalho” e que não haveria “cometimento de qualquer ilegalidade por parte do ministro das Comunicações”.

Se Lula aceitar e perdoar o ministro, estará cometendo um grave equívoco. A decisão mais sensata seria afastá-lo para se defender também de outras acusações, entre elas de ter usado irregularmente o fundo eleitoral e de destinar parte das emendas de relator para obras em sua fazenda. O presidente deveria ter se espelhado no ex-presidente Itamar Franco.

Quando chefe da nação, Itamar obrigava seus ministros a se defenderem de acusações fora do cargo. No caso de provar a inocência, voltaria ao Governo. Foi assim com um dos auxiliares mais próximos dele, Henrique Hargreaves, ministro-chefe da Casa Civil. Foi mencionado na CPI dos Anões do Orçamento como facilitador de negócios. Itamar Franco, então, chamou Hargreaves: “Meu governo não pode ser envolvido com denúncias contra você”. Hargreaves respondeu: “Estou pedindo demissão para responder ao inquérito”. Foi inocentado e voltou mais forte do que era para o mesmo posto.

Juscelino Pinóquio – Itamar chegou ao poder por acaso, com a queda de Fernando Collor de Mello. Era visto por muitos como insignificante e desastrado. Hargreaves foi um antigo funcionário da Câmara dos Deputados, famoso pelo conhecimento de leis fundamentais para o relacionamento do Executivo com o Congresso. Itamar levou-o para o Palácio e não quis, quando o viu no meio do tiroteio, ficar naquela história de negar repetidamente acusações que aparecem de todos os lados, numa democracia. Passou o tempo de mentiras se transformar em verdades de tanto repeti-las. E Juscelino tem cara de Pinóquio.

O jogo do PL – Não fosse a destituição abrupta do deputado Alberto Feitosa, da liderança do PL na Assembleia Legislativa, o Governo teria perdido o controle da Comissão de Constituição e Justiça. A operação para Antônio Moraes (PSDB) derrotar Waldemar Borges (PSB) foi comandada pelo deputado André Ferreira. Essa é a versão que corre nos bastidores, sugerindo que o PL está agindo na Casa como partido integrante da base governista.

A outra versão – Já os aliados de André Ferreira garantem que Feitosa foi afastado pela própria bancada, que se sentiu excluída do debate para definição do partido nas comissões. “Feitosa queria apoiar o PSB e o PT, mesmo tendo um discurso público radical contra o Governo do PSB e o próprio PT. A manobra não deu certo e a própria bancada formou maioria para afastá-lo da liderança em tempo recorde”, disse uma fonte ligada à direção do PL. 

Mais uma dele – Segundo o site Metrópoles Juscelino Filho, o famigerado ministro das Comunicações, chegou a ir pessoalmente à Superintendência da Codevasf no Maranhão para defender que seja mantida uma concorrência suspeita na qual a empresa Engefort foi escolhida para abocanhar um contrato de R$ 54 milhões em obras. Desse valor, R$ 30 milhões têm origem em emendas federais enviadas ao estado pelo próprio ministro, no período em que era congressista, de acordo com informações internas da estatal. Também foi ele quem definiu onde os recursos deveriam ser alocados.

Interpretação livre – Do ex-deputado Danilo Cabral, ontem, em suas redes sociais, ao rememorar o dia em que aceitou a convocação do PSB para disputar o Governo do Estado: “Sem imposição de condição alguma para a disputa, exceto que o partido e a frente popular marchassem verdadeiramente unidos naquela caminhada, aceitei naquele dia o desafio. Abri mão de uma reeleição muito provável para o quarto mandato de deputado federal para disputar uma das eleições mais difíceis da história da Frente Popular”. O fato é sagrado, a interpretação livre.

CURTAS

ATRASO 1 – Funcionários de empresas terceirizadas que prestam serviço para o Governo na rede estadual de educação reduziram o expediente de trabalho por causa do atraso de salários. O problema também atinge os alunos, que estão sendo obrigados a sair mais cedo de escolas, segundo o portal G-1PE, da Globo.

ATRASO 2 – Segundo o sindicato que representa os terceirizados, o problema afeta cerca de 20 mil trabalhadores. A entidade afirma que os salários e alguns benefícios deixaram de ser repassados há quase dois meses pelas empresas que mantêm contratos com o governo. O atraso dos salários dos terceirizados foi denunciado em 10 de fevereiro, antes do Carnaval.  

Perguntar não ofende: O Governo Raquel é o Governo do não pago nada?

Fonte: Blog do Magno Martins.