domingo, 21 de fevereiro de 2021

Analistas esperam que troca na Petrobras afete ações de outras estatais

 As falas do presidente Jair Bolsonaro do sábado (20), sobre novas trocas em seu governo, devem impactar o mercado acionário nesta semana. Além dos reflexos nas ações da Petrobras, a expectativa de analistas é que os efeitos da intervenção na gestão da companhia também respinguem em outras estatais listadas na Bolsa brasileira.

Na sexta-feira (19), a indicação do general Joaquim Silva e Luna por Bolsonaro como novo presidente da Petrobras, no lugar de Roberto Castello Branco, causou alvoroço no mercado e fez com que a companhia perdesse R$ 28,2 bilhões em valor de mercado.

No sábado (20), uma nova fala do presidente elevou a cautela dos investidores. "Vocês aprenderão rapidamente que pior do que uma decisão mal tomada é uma indecisão. Eu tenho que governar. Trocar as peças que porventura não estejam dando certo. [...] Na semana que vem teremos mais", afirmou o presidente a novos soldados do Exército, numa formatura da Escola Preparatria de Cadetes do Exército, em Campinas (SP).

Depois, afirmou que a mudança "não é de 'bagrinho', é de 'tubarão'", e que gasolina poderia estar 15% mais barata do que atualmente.
No mesmo dia, reclamou que "agora resolveram me atacar na energia" e disse: "Vamos meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema também".

Segundo o analista da Guide Investimentos, Henrique Esteter, os novos comentários devem trazer apreensões ao mercado nesta segunda-feira (22).

"É difícil saber o que esperar e, mais ainda, se alguma outra empresa estatal será alvo de troca. As coisas já parecem ter apaziguado em relação ao caso Banco do Brasil e [Wilson] Ferreira Junior acabou de anunciar sua saída da Eletrobras. Não tem muito mais o que fazer",afirmou.

Em janeiro, o anúncio de que o Banco do Brasil estaria fazendo uma reestruturação organizacional irritou Bolsonaro, que ameaçou demitir o presidente do banco, André Brandão. A ministra Tereza Cristina (Agricultura) e o ministro Paulo Guedes (Economia) tiveram que intervir para evitar a saída do executivo.



Além disso, no final do mês, também houve o anúncio de que Ferreira Junior deixaria a presidência da Eletrobras, ficando na gestão da companhia até 5 de março.

Ferreira Junior decidiu sair em função da dificuldade na aprovação da privatização da estatal.

Segundo Fabio Bonchristiano, da Íris Investimentos, as decisões contraditórias de Bolsonaro também acabam assustando o mercado.

"O presidente precisa do dinheiro que o aumento da gasolina traz para o governo por causa do Orçamento restrito e diante da continuidade da pandemia, mas está se desfazendo de quem assumiu a postura que traz o aumento de receita", afirmou.

A gestão Castello Branco focou no pré-sal e no pagamento de dividendos, que beneficiam a União por ser o principal acionista da Petrobras.

Para Bonchristiano, apesar de a decisão de Bolsonaro ser parte de um movimento político, trará uma intensa especulação no mercado.
"[Bolsonaro] está dizendo 'quem manda aqui sou eu' e está assumindo que, mesmo que a decisão não necessariamente seja boa para a empresa, ela acontecerá por ser boa para o governo. Isso respinga em outras estatais e traz um mercado bem volátil para o curto prazo", disse.

Os analistas ainda esperam uma pressão de alta na curva de juros futuros e um real mais desvalorizado ante o dólar.

Fonte : Folha de PE.


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