segunda-feira, 10 de abril de 2023

Cem dias de trapalhadas

 

A governadora Raquel Lyra (PSDB) completa, hoje, 100 dias de gestão. Errou mais do que acertou. Minha avó dizia que a primeira impressão é a que fica. Seus primeiros atos foram desastrosos, primeiro quando deixou as principais repartições acéfalas ao promover a maior vassourada na história do Estado, pondo no olho da rua 2,7 mil servidores comissionados.

Com o PSB no poder há 16 anos, ninguém imaginava a preservação nos cargos dessas 2,7 mil pessoas. Todo governo muda, mas sem paralisar o Estado. Como resultado desse corte brutal e impensado, até hoje muitos órgãos do segundo escalão não têm sequer ordenadores de despesas. A decisão foi tão precipitada que a governadora esqueceu que janeiro é mês de matrícula na rede estadual de ensino.

Teve que recuar na educação. O Detran ficou por duas semanas sem emissão de carteiras, porque, simplesmente, não havia ninguém para assinar. O ato, que deveria marcar de forma positiva o início de seu mandato, acabou trazendo problemas à tucana. A medida foi criticada e causou reação de sindicatos e políticos pernambucanos. Tanto que um dia depois, a governadora republicou o decreto para acrescentar mais exceções à lista de categorias que seriam poupadas da exoneração em massa.

Sendo assim, foram incluídas as equipes gestoras das escolas regulares, técnicas e de referência da rede estadual de ensino, como diretores, secretários e educadores de apoio. A vassourada causou uma corrida aos sindicatos. Os servidores foram buscar garantia de direitos. Os relatos de servidores efetivos foram de assombro e paralisia nas diversas áreas do serviço público estadual. O Estado saiu prejudicado pelo vácuo deixado pelo ato impensado, de quem parecia não entender nada de máquina pública.

Sem social – Os cem dias de Raquel também foram de terríveis efeitos sociais. As famílias pobres, dependentes do programa do Leite, ficaram sem nutrir suas crianças pela manhã, porque a tucana não pagou a contrapartida do Estado. Já o décimo terceiro do Bolsa-Família até hoje não foi pago, contribuindo para aumentar ainda mais a fome de milhares de pernambucanos. É bom lembrar que uma das promessas de campanha dela foi justamente reduzir a miséria.

Amadorismo atroz – Cientistas políticos ouvidos em reportagem da Folha de Pernambuco também manifestaram desapontamento com os 100 dias da tucana. “A assinatura do primeiro decreto, em janeiro, o das exonerações de todos os cargos comissionados da máquina pública, foi uma opção por uma decisão que, do ponto de vista político poderia ter um acerto, mas do ponto de vista administrativo foi relativamente uma demonstração de amadorismo”, disse o cientista e professor Antonio Henrique Lucena.

Recordar é viver – Nada se sabe o que o Governo Raquel produziu de positivo nas finanças em 100 dias. Mas em Caruaru, quando prefeita, ela realizou mais despesas do que tinha capacidade para pagar, ficando negativada em R$ 26 milhões. Num período bem próximo de deixar a Prefeitura para concorrer ao Governo do Estado, totalizou despesas não vinculadas da ordem de R$ 31 milhões, com apenas R$ 5 milhões em caixa, gerando um déficit de R$ 26 milhões.

Crise no Sassepe – Outra área negativa dos 100 dias de Raquel está na relação com os hospitais conveniados ao Sassepe – Instituto de Recursos Humanos de Pernambuco. A dívida do Sassepe com a sua rede credenciada é de mais de R$ 300 milhões, em meio ao caos na assistência aos servidores públicos estaduais, que chegaram a ter seus serviços suspensos em alguns hospitais, clínicas e laboratórios. Criado há mais de 20 anos, o plano de saúde dos servidores estaduais atende a 190 mil almas vivas e seus dependentes.

Aliança à direita – Na área política, a governadora sinalizou uma aliança com o bolsonarismo ao entregar para o PL, partido do ex-presidente Bolsonaro, o Detran, uma das maiores máquinas arrecadadoras do Estado. A negociação foi direta e pessoal com o presidente estadual da legenda, Anderson Ferreira, que os aliados de Bolsonaro em Pernambuco o classificam de “ferreirista” e não bolsonarista. Não se sabe se essa aliança será duradoura até as eleições municipais num Estado extremamente lulista.

CURTAS

DERROTAS – Nos cem dias de relação com a Assembleia Legislativa, a governadora sofreu derrotas. A mais recente foi na semana passada. A Comissão de Constituição e Justiça da Casa aprovou proposta da oposição, de iniciativa do deputado Alberto Feitosa, que aumenta, de forma escalonada, o valor das emendas parlamentares destinadas a prefeituras e fundações.

E O AMERICANO? – A governadora fez o maior barulho com a desapropriação do Colégio Americano Batista, que iria a leilão. Mas passados 100 dias, não andou para lugar nenhum, até porque a ideia custa uma baba que ninguém sabe de onde irá retirar o dinheiro: o imóvel está avaliado em R$ 103 milhões.

Perguntar não ofendeQual obra a governadora de Pernambuco iniciou em 100 dias de gestão? 

Fonte: Blog do Magno Martins.

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