O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá que compatibilizar as nomeações de senadoes da base aliada para evitar um desfalque na Casa, que também foi foco de preocupação para Jair Bolsonaro (PL) em sua gestão. A Casa impôs importantes derrotas ao atual mandatário ao longo dos últimos quatro anos.
Dos senadores aliados (entre aqueles já em exercício e os eleitos), Lula cogita ao menos oito em ministérios. Os nomes mais fortes são de Flávio Dino (PSB-MA), Wellington Dias (PT-PI) e Jaques Wagner (PT-BA). O trio é cogitado para pastas importantes na Esplanada, como Justiça, Casa Civil, Economia (pasta que deverá ser desmembrada em pelo menos duas, Fazenda e Planejamento) e Defesa.
O ex-governador do Maranhão Flávio Dino tem duas suplentes mulheres: Ana Paula Lobato (PSB), vice-prefeita da cidade maranhense Pinheiro, e Lourdinha (PCdoB), vereadora do município de Coroatá. Ambas são ideologicamente aliadas a ele, mas a preocupação é que nenhuma tem a experiência política de Dino.
O ex-governador do Piauí Wellington Dias, que já foi senador entre 2011 e 2014, tem como suplentes dois petistas: Jussara Lima e José Amauri, o que também confere tranquilidade em uma eventual licença dele do cargo, mas incorre na mesma questão de Dino, que é deixar a vaga com nomes com menos expressão.
Por sua vez, o primeiro suplente de Jaques Wagner — que já foi ministro tanto de Lula quanto de Dilma — é Bebeto, do PSB, partido da base. No entanto, a segunda suplente é Luciana Leão Muniz, do PL, partido de Bolsonaro. Assim como Dino e Dias, Wagner é tido como valioso no Senado em razão de sua habilidade política.
Outros senadores aliados cotados para ministérios são Carlos Fávaro (PSD-MT) e, com menos chances, Humberto Costa (PT-PE), Otto Alencar (PSD-BA), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Camilo Santana (PT-CE).
A indicação de Carlos Fávaro para o Ministério da Agricultura é bem recebida por expoentes do setor, mas sua possível nomeação como ministro pode ocasionar ampliação da base bolsonarista no Senado. Interlocutores do parlamentar confirmaram ao Metrópoles que o congressista está em “conversas avançadas” para assumir o comando da pasta. Hoje, ele integra o Gabinete da Transição.
Fávaro foi eleito em 2020 em eleição suplementar após cassação da ex-senadora juíza Selma Arruda. A primeira suplente do ruralista é Margareth Buzetti (PP). Margareth é empresária, votou em Bolsonaro e liderou movimentos femininos de apoio à reeleição do presidente no Mato Grosso, o que gera preocupação para a equipe de Lula.
Saúde
Dois nomes entre os aliados de Lula disputam a preferência do novo governo pelo comando do Ministério da Saúde no Senado. Entre eles, o petista Humberto Costa desponta como favorito justamente pela experiência prévia como titular da pasta. O petista comandou o ministério no início do primeiro mandato do presidente eleito, em 2003 – ocasião em que ficou responsável pela criação do Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu).
Além disso, Costa abriu mão de disputar o governo de Pernambuco em 2022. O PT acabou não elegendo o aliado Danilo Cabral (PSB-PE), que sequer disputou o segundo turno.
O único empecilho é o temor do governo petista em, com a saída de Costa, enfraquecer a bancada no Senado. O primeiro suplente do senador pernambucano é Waldemar Oliveira, filiado ao Avante, legenda sem representatividade na Casa Legislativa.
Outro nome ventilado é o de Otto Alencar (BA). Médico de formação, o senador é filiado ao PSD e sua promoção a ministro da Saúde implicaria em aceno a Gilberto Kassab, presidente da sigla.
Recentemente, a coluna Igor Gadelha noticiou que o ex-prefeito de São Paulo requisitou o comando de dois ministérios para a legenda no novo governo, apesar de não ter apoiado o petista nas eleições. A mudança não implicaria em eventual desfalque da bancada do PSD no Senado. Isso porque o suplente de Otto Alencar é Abel Rebouças, que também é filiado à legenda.
Randolfe e Camilo
Atual líder da oposição no Senado Federal, Randolfe Rodrigues também integra a lista de cotados para assumir o comando de um ministério no novo governo. Projetado nacionalmente pela vice-presidência da CPI da Covid-19, o senador atuou como coordenador de campanha de Lula durante as eleições e também trabalha junto ao petista no Gabinete da Transição.
É um dos nomes ventilados para o Meio Ambiente (para o qual tem sido muito citado o nome de Marina Silva, da Rede, deputada federal eleita por São Paulo). A ida de Randolfe à Esplanada desfalcaria a base aliada do governo. O primeiro suplente do senador é o policial civil Alberto David, que recentemente migrou do Patriota para o PSD. O Patriota chegou a flertar com o presidente Bolsonaro quando o mandatário do país estudava uma legenda para concorrer à reeleição neste ano, mas acabou escolhendo o PL de Valdemar Costa Neto.
Eleito pelo Ceará, Camilo Santana (PT) aparece como um dos favoritos de Lula para o comando de uma das pastas decorrentes do desmembramento da Economia. Além do currículo e da boa receptividade do mercado, pesa a favor do ex-governador do estado o fato de ambas as suplentes do senador eleito, Augusta Brito e Janaina Farias, serem filiadas ao PT, o que não afetaria na composição da base aliada do novo governo na Casa.
Composição das bancadas
Nas eleições deste ano, das 27 vagas disponíveis, uma por unidade da Federação, o atual chefe do Executivo conseguiu eleger 16 candidatos aliados, enquanto Lula elegeu apenas oito nomes. São eles:
- Renan Filho (MDB-AL);
- Omar Aziz (PSD-AM);
- Otto Alencar (PSD-BA);
- Camilo Santana (PT-CE);
- Flávio Dino (PSB-MA);
- Beto Faro (PT-PA);
- Teresa Leitão (PT-PE);
- Wellington Dias (PT-PI).
O petista teve um desempenho abaixo do esperado nas urnas, tanto no cenário presidencial quanto nas vagas em disputa para o Senado.
Já Bolsonaro conseguiu eleger oito senadores do PL, dos quais três são ex-ministros: Tereza Cristina (PL-MS), Rogério Marinho (PL-RN) e Marcos Pontes (PL-SP). Há ainda dois ex-ministros recém-eleitos: Damares Alves (Republicanos-DF) e Sergio Moro (União-PR), além do ex-secretário da Pesca Jorge Seif (PL-SC).
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