sábado, 10 de dezembro de 2022

Lula sabe escalar seu exército

 

Ao anunciar, ontem, seus primeiros cinco ministros, entre eles o pernambucano José Múcio Monteiro, para a Defesa, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mostrou que é, literalmente, um animal político. Sabe, como ninguém, escalar o exército da batalha como comandante que não abre mão das suas prerrogativas.

Como técnico habilidoso, fez a escalação com atenção e capricho. Primeiro, o núcleo duro, formado pelos petistas Fernando Haddad e Rui Costa, Fazenda e Casa Civil, respectivamente. José Múcio Monteiro e Flávio Dino, Defesa e Justiça, também pela ordem. O complemento se deu com Mauro Vieira, para o Itamaraty.

Os nomes, bem recebidos pelos aliados e o mercado, tende a solucionar impasses com a Câmara, com as Forças Armadas e, ainda, acalmar o setor financeiro. “Espero que Haddad fale sobre mercado, mas também fale das necessidades do povo”, disse Lula ao anunciar o nome do petista para comandar a equipe econômica.

A escolha foi antecipada porque Lula recebeu a informação de que os atuais titulares das Forças deixarão os cargos ainda neste mês, o que obrigou o presidente eleito a agir rápido para evitar uma crise militar no início do governo. Essa advertência foi feita pelo próprio ministro José Múcio, escolhido para pacificar as Forças Armadas.

Em sua fala, antes de anunciar os primeiros ministros, Lula disse que o seu governo vai apresentar um balanço do que foi deixado por Bolsonaro. Ressaltou que encontrou um “um governo com o corpo muito grande e a cabeça muito pequena”. “É um governo que não preparou administração desse País, um governo que preferiu falar e não conseguiu resolver os problemas que é preciso”, afirmou.

O recado – O balanço final da equipe de transição deverá ser conhecido no dia 20 ou 21 de dezembro. “Eu espero que a gente consiga recuperar aquilo que é o sonho da sociedade brasileira. Nós não temos o direito de frustrar a expectativa de uma grande parcela da sociedade, que estava precisando de ar de novo, de ar puro para que a gente possa respirar mais democracia, mais salário, mais emprego, mais educação, mais saúde e mais liberdade de expressão e comunicação”, disse Lula.

O pacificador – Ex-deputado e ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio é amigo do petista e foi seu articulador político no Palácio do Planalto, no último mandato. Habilidoso, será o elo direto com as Forças Armadas e trabalhará para minar a resistência a Lula nas cúpulas militares e mudar o tratamento a comportamentos partidários.

Já em ação – Múcio, que se diz um “construtor de pontes”, começou a agir antes mesmo da indicação. Em contato com Lula, participou da escolha, na quinta-feira passada, dos próximos comandantes-gerais das três forças. Os escolhidos foram o general Júlio César Arruda (Exército), o almirante Marcos Olsen (Marinha), e o brigadeiro Marcelo Damasceno (Aeronáutica). Os altos comandos das três Forças foram informados extraoficialmente.

Crise debelada – A temperatura se elevou no entorno de Lula com a decisão dos comandantes atuais, nomeados por Jair Bolsonaro, de sair do cargo antes da hora, em vez de aguardar a posse do eleito, como é praxe. Aliados de Lula interpretaram o ato como um sinal de desprezo político. As providências já estavam sendo tomadas para a despedida. Seria uma das primeiras crises de Lula na caserna, e Múcio teve de agir para debelar.

A missão de Dino – Indicado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, o senador eleito pelo Maranhão, Flávio Dino (PSB), tem como objetivo à frente da pasta o que ele e petistas classificam como “desbolsonarizar” a Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Além disso, em outro foco de ação, Dino pretende revogar decretos de armas assinados pelo atual governo.

CURTAS

CHEFE DA PF – Flávio Dino anunciou, de imediato, a indicação do delegado Andrei Rodrigues como novo chefe da Polícia Federal. Disse que a escolha para diretoria-geral da PF levou em consideração a ‘necessidade de restauração da plena autoridade e legalidade’ na corporação e a experiência profissional do delegado, que já foi Secretário Extraordinário de Grandes Eventos.

NO SCRIPT – A escolha de Fernando Haddad para a Fazenda seguiu o script desenhado na campanha eleitoral, de que o escolhido seria um político, como foi com Antônio Palocci no seu primeiro mandato, há 20 anos. A indicação também revela o desejo de Lula de ter no comando da economia um nome com quem tenha proximidade, a despeito de fogo amigo dentro do PT.

Perguntar não ofende: E em Pernambuco, quando Raquel Lyra vai anunciar seus primeiros secretários?

Fonte: Blog do Magno Martins

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