Por Rodrigo Augusto Prando, em artigo enviado ao blog
Não causa espanto a recente pesquisa do Instituto Datafolha que apresentou que Bolsonaro tem a maior aprovação desde que assumiu a presidência, pois, em junho, 32% consideravam o governo bom/ótimo e, agora, são 37%. Alguns fatores podem explicar o quadro geral. Vejamos.
O ponto fulcral, aqui, está no auxílio emergencial. O dinheiro transferido pelo Governo Federal aos que, na pandemia, se encontram em situação de vulnerabilidade é o principal motivo para a melhora da avalição. O auxílio foi solicitado por cerca de 40% da população brasileira – número que já mostra a tragédia econômica em curso – e, ainda, são 75% dos desempregados que procuram emprego, 71% entre os assalariados sem registro e 61% entre autônomos e liberais.
São estes, portanto, os responsáveis pela variação positiva pró-governo, segundo artigo de Mauro Paulino (Diretor Geral do Datafolha) e Alessandro Janoni.
Há outros elementos, especialmente, mudança de postura de Bolsonaro que reclamam atenção.
Do início do mandato de Bolsonaro até a prisão de seu amigo Fabrício Queiroz, tivemos um estilo que chamei, em artigos e entrevistas, de presidencialismo de confrontação.
Bolsonaro e os bolsonaristas raiz estavam, se não cotidianamente, ao menos semanalmente, confrontando e atacando os atores políticos e as instituições da república, cujos alvos principais eram o Congresso Nacional (a “velha política”) e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Foi, assim, na conjugação de alguns eventos que essa mudança de atitude são mais visíveis, como, por exemplo: a prisão de Queiroz; as investigações no bojo do STF que miram o presidente, familiares e bolsonaristas; a saída de Weintraub do Ministério da Educação; a reação da sociedade e de investidores e, consequentemente, a tutela de Ricardo Salles por Hamilton Mourão no que tange à Amazônia; a busca de uma base política com o abraço caloroso no Centrão (naquela tão xingada “velha política”) e, por fim, até mesmo o silêncio de Bolsonaro pelo curto período no qual indicou que havia sido contaminado pelo coronavírus.
Assim, de maneira inédita teremos, talvez, ocupando o Planalto, um confrontador, que atacou as instituições, por um ano e meio e um candidato pelos próximos dois anos e meio, sem, com isso, termos conhecido um Presidente da República.
Os dois pilares da gestão Bolsonaro já não existem mais: Moro, no combate à corrupção e Guedes com sua agenda liberal.
Moro foi defenestrado do governo e Guedes encontra-se escanteado pelo “Bolsonarinho paz, amor e gastador”.
Há que se admitir que Bolsonaro sempre gostou de fazer campanha e não de governar.
No universo das contradições, a popularidade do governo está atrelada a tudo aquilo que o candidato Bolsonaro atacou na campanha, ou seja, a maior presença do Estado na economia e o aggiornamento do Bolsa Família.
Muitos dos que recebem o auxílio acreditam que ele será permanente e esse é o maior problema para o governo, ou seja, qual a mágica que será apresentada?
Será o “Programa Renda Brasil”, um novo e hipertrofiado “Bolsa Família”?
Muitos – sensíveis que estão – se questionam: e o menoscabo de Bolsonaro com a pandemia, sua falta de liderança e empatia e os mais de 100 mil mortos?
Isso não seria suficiente para derrubar sua aprovação?
A resposta, aqui, é não!
Nós, brasileiros, normalizamos a anormalidade e, para lembrar Maquiavel, a política é o que é e não o que gostaríamos que fosse.
Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.
Fonte :Blog de Jamildo.
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