Um dos atores mais conhecidos, Harvey Specter tem uma frase recorrente que se aplica bem ao que se observa hoje em Pernambuco nos primeiros 15 dias do Governo Raquel Lyra (PSDB): “A primeira impressão é a que fica. Se começar o jogo perdendo, nunca vai sair ganhando”. Impossível julgar um governo que ainda não começou, mas seus primeiros atos deram uma péssima impressão.
De largada, a tucana deu uma vassourada sem precedentes, demitindo todos os comissionados, algo em torno de 2,7 mil pessoas. Resultado: caos nas repartições públicas. Os pernambucanos que aguardavam uma carteira de habilitação, por exemplo, ficaram quase dez dias chupando o dedo, porque não havia presidente no Detran para assinar o documento.
Em Pernambuco, uma lei de 2007 de autoria do ex-governador Eduardo Campos (1965-2014) proíbe que parentes de até terceiro grau de governador, vice-governador e secretários ocupem cargos em comissão no Governo. Mas Raquel nomeou Bianca Teixeira, prima de primeiro grau, procuradora-geral do Estado, e André Teixeira Filho, secretário-executivo da pasta de Desenvolvimento Econômico. Na campanha, a tucana condenou a prática de nepotismo. Em um dos debates no segundo turno, criticou a adversária Marília Arraes (Solidariedade) citando embates da rival com o seu primo de segundo grau, o prefeito do Recife, João Campos (PSB).
“Eu não sou teu primo. Aqui não é briga na cozinha da tua casa. Vocês brigam de dia e se arrumam de noite num almoço de domingo e jantar pizza. Ela fala que não é a candidata de Paulo Câmara, mas eu pergunto: se alguém não faz parte do grupo político, por que tem tanta gente da família empregado lá? A mulher do pai dela era gerente do Palácio [do Campo das Princesas], a irmã, com alto cargo com Geraldo Julio na Prefeitura [do Recife, quando ele era prefeito], o irmão, que até hoje é assessor da Ilha de Fernando de Noronha”, afirmou Raquel, no debate da TV Globo, em outubro de 2022.
Ainda na campanha, Raquel condenou o Fundo Estadual de Equilíbrio Fiscal, que deveria ser extinto no apagar das luzes do ano passado, mas enviou projeto à Assembleia Legislativa propondo a sua prorrogação por mais dois anos, até 2024. No último sábado, o Diário Oficial trouxe um decreto, assinado por ela, passando uma borracha na proibição de cessão de servidores, um dos itens da vassourada mais criticado, porque, sem o menor critério, atingiu militares que fazem até a sua segurança pessoal como governadora.
São exemplos dessa natureza que dão a impressão de que tomou decisões açodadas por mero desconhecimento de gestão ou que não está ainda com o verniz indispensável para gerir um Estado complexo como Pernambuco.
Dois pesos, duas medidas – Se parecia implacável com quem serviu aos governos do PSB, a governadora esqueceu de orientar melhor seus auxiliares. Na Saúde, a secretária Zilda do Rego Cavalcanti está tocando o barco com uma penca de bons técnicos requisitados pelo ex-secretário André Longo, como Alessandra Cabral e Vânia Galeno, os mais conhecidos. Dois pesos, duas medidas ou falta de quadros para trabalhar no seu governo, que prometeu ser diferente?
Clarissa pode ser cassada – O que se diz em Brasília é que o ministro Alexandre de Moraes, o implacável Xandão, não perdoará os deputados que incitaram o quebra-quebra ao Congresso, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto, como a pernambucana Clarissa Tércio (PP). Mesmo não estando na arruaça em Brasília, a deputada postou um vídeo em suas redes sociais apoiando os atos terroristas e antidemocráticos e as chances de ser cassada são enormes.
Triste recuo – Na recuada que deu em relação aos servidores à disposição de outros órgãos, Raquel beneficiou centenas de servidores que atuam no Tribunal de Justiça de Pernambuco, Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5), Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) e em prefeituras, como as do Recife e de Olinda. Dessa forma, os servidores estaduais não vão voltar para o Estado e vão permanecer nos órgãos aos quais foram cedidos. Estão incluídos na lista de cessões, nomes como o do secretário de Educação do Recife, Fred Amâncio, originalmente lotado na Secretaria da Fazenda, e da secretária de Finanças do Recife, Maíra Fischer, do quadro da Secretaria de Planejamento e Gestão.
Briga por vaga no TCU – O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, está sendo pressionado pelo Republicanos a pautar a eleição para a vaga do ministro no Tribunal de Contas da União (TCU) já no início de fevereiro, no início da nova legislatura. Lira tem um acordo para apoiar a candidatura de Jhonatan de Jesus, deputado do Republicanos de Roraima. Dois outros postulantes, porém, preferem ganhar tempo — e votos — e deixar a eleição para depois: Soraya Santos, do PL, e Hugo Leal, do PSD. Eles avaliam que fazer a votação logo após a eleição da Presidência da Câmara, antes mesmo que as comissões estejam instaladas, é um atropelo do processo.
Promulgação pela Alepe – Passados 15 dias, a governadora Raquel Lyra não promulgou o projeto de lei, aprovado a toque de caixa no final de 2022, pela Assembleia, que autoriza o aumento dos salários dos parlamentares, da governadora e da vice Priscila Krause (Cidadania), além dos secretários estaduais. Como a tucana não se manifestou, a própria Alepe, como assegura a lei, fez a promulgação, em meio à polêmica da criação de auxílios moradia, saúde e alimentação para os 49 deputados. O contribuinte vai bancar até R$ 12 mil mensais por cada um.
CURTAS
O MUNDO GIRA – Encampada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, a ideia de permitir que empreiteiras da Operação Lava Jato paguem multas de seus acordos de leniência com a execução de obras públicas tem como principal articulador o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas. Em um passado recente, o ministro fez uma cruzada para impor sanções mais duras do que as previstas nos acordos e foi tido pelas empresas como algoz.
NOVO MÍNIMO – Lula deve se reunir, hoje, com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Em pauta, a discussão do novo salário mínimo, de R$ 1.302 para R$ 1.320. Na última quinta-feira, questionado sobre o assunto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo ainda analisa qual decisão tomar. Explicou que a rubrica destinada à elevação do valor, de R$ 6,8 bilhões, já foi consumida pela aceleração da fila do INSS.
Perguntar não ofende: Mais algum município vai seguir a decisão de Buíque, cancelando o Carnaval?
Fonte: Blog do Magno Martins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário