O altar principal da Basílica da Penha guarda uma relíquia. A peça tem mais do que o dobro da idade do templo e remete à tradição da Igreja Católica de preservar a memória de santos e mártires. A relíquia é um fragmento de osso de São Félix de Cantalice, capuchinho italiano que faleceu em 1587 e foi canonizado em 1712. O valor da peça é pequeno do ponto de vista econômico, porém incalculável sob a ótica religiosa.
“Esse tipo de relíquia, desde os primórdios da Igreja, é venerada pelos cristãos como forma de se aproximar dos santos”, disse o reitor da basílica, frei Luís de França. A Penha, fechada para reforma desde 2007, guarda relíquias de 12 mártires e santos. Além de São Félix de Cantalice, a relação inclui pequenos amostras dos restos mortais de santos Eustáquio, do século 2, e Urbano e Emerenciana, do século 3.
A Igreja Católica não sabe quantas relíquias existem em Pernambuco. Na Arquidiocese de Olinda e Recife, a estimativa é que ultrapasse as duas dezenas. Há pouco mais de dois meses, o arcebispado recebeu do Vaticano relicários com o fragmento do corpo de João XXIII e do sangue de João Paulo II. As relíquias dos papas, canonizados em abril deste ano, vão percorrer as 115 paróquias da arquidiocese.
Além do sangue, o arcebispado de Olinda e Recife possui peças que pertenceram a João Paulo II. “Temos o cálice e a casula - veste litúrgica - usados por ele no Recife em 1980”, revelou o vigário geral da arquidiocese, monsenhor José Albérico Bezerra de Almeida. O cálice e a casula serão expostos no Palácio dos Manguinhos, nas Graças.
Na matriz de São Lourenço da Mata, a relíquia do padroeiro fica no altar-mor. O santo, que empresta o nome à cidade, morreu de maneira cruel no século 3. Foi assado em uma grelha por ordem de Cornelius Saecularis, prefeito de Roma. Uma vez por ano, em 10 de agosto, o relicário com o fragmento do osso da perna de São Lourenço é exposto na procissão dedicada ao santo. “A relíquia chegou aqui de forma especial”, contou o padre Héctor Miguel Ruiz Padilla. A doação foi feita pelos bispos dom Genival Saraiva, de Palmares, e dom Jorge Tobias, de Nazaré da Mata, em 2004.
O mapa das relíquias de santos e mártires católicos se estende por vários bairros do Recife. Os frequentadores da matriz do Bongi reservam atenção especial a um fragmento do corpo de São João Bosco, patrono da paróquia.Uma relíquia maior do santo esteve no Recife em janeiro de 2010, quando uma das cinco urnas mortuários de Dom Bosco percorreu várias cidades brasileiras, tendo sido Recife uma delas. As Irmãs Salesianas, à frente do Colégio Auxiliadora, têm em seu patrimônio religioso, na Boa Vista, as relíquias dos santos Maria Domingas Mazzarello e Domingos Sávio.
Igreja certifica as peças
A veneração às relíquias levou em determinadas épocas do Cristianismo, especialmente na Idade Média, à falsificação de peças. Entre os exemplos famosos está o dos pregos usados na crucificação de Jesus. Na época, a iconografia mostrava Cristo preso à cruz por dois ou três pregos, mas a veneração popular fez o número de exemplares “autênticos” chegar a cerca de 700.
Para evitar os erros do passado, a Igreja confere atualmente ceritificados de autenticidade para as relíquias de santos e mártires. Isso aconteceu, segundo monsenhor José Albérico Bezerra de Almeida, com uma amostra da terra do túmulo de São Pedro, adquirida recentemente pela Arquidiocese de Olinda e Recife. Um relicário está sendo preparado para abrigar o “solo sagrado”.
Outras relíquias existentes no estado têm certificado de autenticidade, como as de São Félix de Cantalice e de São Lourenço. “Quando a relíquia foi doada para nossa paróquia, ela veio com o documento comprovando a sua origem”, disse padre Héctor Miguel Ruiz Padilla. A relíquia de São Lourenço está entre as mais antigas a ser cultuada no mundo católico. A de São Policarpo é considerada a primeira a ser venerada. Isso no ano 156.
“Esse tipo de relíquia, desde os primórdios da Igreja, é venerada pelos cristãos como forma de se aproximar dos santos”
- Frei Luís de França,reitor da Basílica da Penha
Fonte :Jaílson Paz - Diário de Pernambuco.
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