Há muito tempo que acompanho de perto os passos de Raquel Lyra, governadora eleita de Pernambuco pelo PSDB. Não tenho dúvida da sua garra e capacidade de luta. Também é impossível não registrar que nasceu em berço de ouro, vindo de uma das famílias mais ricas e poderosas do Agreste, em particular, e de Pernambuco em geral.
Representa a terceira geração no poder, tendo o seu avô João Lyra Filho criado a dinastia Lyra, tanto na política como nos negócios milionários. Seu pai, João Lyra Neto, foi a segunda geração familiar como prefeito de Caruaru, e até chegou a ser governador de Pernambuco num mandato tampão sucedendo a Eduardo Campos.
Tinha também o tio, o saudoso Fernando Lyra, que foi ministro e influente parlamentar no plano nacional. Só que agora Raquel atingiu um patamar acima dos seus ancestrais ao ser eleita governadora, por mérito próprio, enfrentando as mais extremas dificuldades, sem apoio político, a não ser do ex-ministro Armando Monteiro, o primeiro a acreditar e apostar nela, fora do ambiente da dinastia Lyra.
Lógico, Priscila Krause também foi fundamental para dar sustentação política e emocional a Raquel, mas em grande parte também há de se lembrar que em 2018 Raquel foi fundamental para a reeleição de Priscila como deputada estadual. Mas o fato é que a vitória histórica de Raquel, como primeira mulher a ser eleita pelo povo para comandar Pernambuco, tem como fator central e decisivo os méritos e as qualidades combativas da própria governadora.
Ontem, ao carimbar a equipe de transição de Raquel como a República de Caruaru, houve quem interpretasse como uma postura hostil e de oposição ao futuro governo da tucana. Longe disso! Independente desse fator isolado, aproveito para relatar “o caso eu conto como o caso foi” envolvendo minha relação com poderosos.
Exerço meu papel do jornalismo livre. Sendo assim, posso apontar elementos preocupantes e mesmo perturbadores envolvendo a governadora eleita. E nisso não há como deixar de apontar sua característica autoritária e centralizadora, sendo levada ao máximo do capricho de mandona.
Leve-se em conta o fato de viver num ambiente corrosivo e opressor do patriarcado, misógino e implacável. Ocorre que, como dizia o grande Paulo Freire, isso não justifica aceitar a oprimida querer se transformar em opressora. Não, isso combato firmemente. A governadora vai ter que aceitar a imprensa livre, sempre alerta para denunciar arroubos autoritários e vingativos, parte essencial da sua personalidade.
Antes dela, enfrentei o então poderoso Eduardo Campos, no auge do seu poder, com aprovação de 90% da população. Antes dele, Jarbas Vasconcelos, também super popular em duas gestões, que chegou a se intrigar de mim, ficando mais de dois anos sem ao menos me cumprimentar. Antes dele, peitei o também coronel, mas diplomático Miguel Arraes, que chegou a me expulsar de um restaurante em Brasília no seu último mandato de governador.
Joaquim Francisco foi outro. Apesar de servir ao seu Governo, nunca aceitou o contraditório em colunas assinadas por mim e por isso mesmo também cortou relações. Não temo nem temerei jamais qualquer tipo de autoritarismo, seja de quem for. Raquel, que já inclusive iniciou uma carreira como parte da Polícia Federal, vai ter que respeitar o sagrado Estado Democrático de Direito, no qual temos como um dos pilares a Liberdade de imprensa e do livre pensamento.
Finanças equilibradas – Diferente do que ocorreu na passagem do Governo de Eduardo Campos para Paulo Câmara, a governadora eleita vai receber um Estado com capacidade de contratar R$ 5,2 bilhões para investimentos em obras estruturadoras, segundo me revelou, ontem, o secretário da Fazenda, Décio Padilha, que está cotado, segundo o jornal O Estado de São Paulo, para comandar a Receita Federal, instituição já dirigida com muito sucesso por um outro pernambucano, o economista Everardo Maciel, na era Fernando Henrique Cardoso.
A diferença – Lula faz uma transição pacífica, unindo o Brasil. Além de abrir espaços para todos os partidos, deixou o ranço de lado ao sinalizar para o seu futuro Ministério adversários que no primeiro turno da corrida presidencial o hostilizaram quando a temática dos debates se situou em corrupção, a exemplo da senadora Simone Tebet. Já a governadora eleita Raquel Lyra restringiu sua transição a um corpo técnico. No campo político, o jovem e promissor quadro político Miguel Coelho, que a apoiou no segundo turno, com certeza daria uma bela contribuição na discussão dos problemas do semiárido.
Sucessão tucana – A sucessão na presidência nacional do PSDB, hoje nas mãos do pernambucano Bruno Araújo, já está de vento em popa. O mais votado é o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, mas a governadora eleita Raquel Lyra está no jogo, segundo o deputado estadual eleito Izaías Régis. “Tenho certeza que Raquel será a presidente do PSDB nacional. Raquel tem potencial e credibilidade e ganhou a eleição em Pernambuco com uma facilidade imensa”, disse, ontem, o parlamentar em entrevista à Rádio Folha.
Ministro da Fazenda – Lara Resende, Guilherme Mello, Nelson Barbosa e Pérsio Arida comandarão a economia no futuro Governo Lula. Um deles será o ministro da Fazenda. As apostas em Brasília esquentam em torno de Lara Resende, um dos pais do Plano Real. Já a senadora Simone Tebet seria nome certo para o Ministério da Assistência Social. O fato é que Lula fará um governo de coalizão, além do PT, que terá presença forte, mas não tão quanto nos governos anteriores de Lula e Dilma.
França de olho em Cidades – Soube, ontem, em Brasília, que o nome que o PSB indicar para o Ministério Lula aceita, mas entre Paulo Câmara e o ex-governador de São Paulo, Márcio França, ele preferiria o segundo. Mas França não quer o Ministério de Ciência e Tecnologia, ocupado pelo ex-governador Eduardo Campos. Sonha com a pasta de Cidades, segundo uma fonte bem próxima ao político paulista.
CURTAS
ATRACAÇÃO – A Justiça Federal determinou, ontem, que a Marinha suspenda a atracação forçada do porta-aviões que está parado há um mês na costa de Pernambuco. A decisão liminar acatou um pedido feito pelo Governo do Estado, que foi notificado de que o Porto de Suape seria obrigado a receber a embarcação, mesmo diante dos riscos ambientais.
BOA NOTÍCIA – O governador Paulo Câmara autorizou, ontem, o início da vacinação contra a Covid-19 para bebês de seis meses e crianças de até dois anos que têm doenças pré-existentes, as chamadas comorbidades. A decisão foi divulgada após uma reunião entre representantes do Estado e das cidades pernambucanas, em um momento de alta nos casos da doença.
Perguntar não ofende: Décio Padilha aceita ser o xerife da Receita Federal ou prefere voltar à iniciativa privada?
Fonte:Blog do Magno Martins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário