segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Raquel interferiu, mas perdeu

 

Está mais para um conto de carochinha a versão de que a governadora Raquel Lyra (PSDB) não interferiu na eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa. Vamos aos fatos. Seu candidato do peito era Antônio Moraes, que não decolou. Na verdade, foi atropelado pelo pragmatismo de Álvaro Porto (PSDB). Consciente de que seu partido é nanico na Casa, tendo apenas três deputados, Porto conquistou os votos dos demais 48 colegas com o discurso de candidato independente, legítimo representante do parlamento.

Deu tão certo que, de imediato, atraiu o apoio dos dois principais partidos de oposição ao Governo – PSB, que tem a maior bancada, e a federação de esquerda – PT, PV e PCdoB. Trouxe também a bancada do Solidariedade, integrada por três parlamentares. É bom lembrar que o SD deu legenda para Marília Arraes disputar o Governo do Estado e esse simbolismo ratificou a candidatura de Porto tendo como nascedouro a vontade soberana do parlamento, sem interferência do Palácio.

Vendo que Moraes não se elegia, Raquel tentou fazê-lo primeiro-secretário, segundo cargo mais importante da Mesa, mas Inês já era morta, porque a candidatura de Gustavo Gouveia, do Solidariedade, eleito, se agigantou alicerçada justamente pelo PSB, que abandonou Aglailson Júnior, e a federação, liderada pelo PT. Por fim, a governadora perdeu também a disputa pela primeira- vice-presidência.

Sua candidata era Simone Santana (PSB), que foi ao segundo turno contra Aglailson Victor, saindo derrotada. Deputados relataram ao blog que presenciaram um telefonema de Raquel para Álvaro Porto, antes de iniciar a votação de segundo turno na briga de Simone com Aglailson, pedindo para eleger Simone. Mais uma vez, Inês também já estava morta.

No mais, Aglailson não teve o apoio formal do PSB, mas ganhou os votos do PT e da federação no segundo turno, que ficaram insatisfeitos com a derrota de Doriel Barros na disputa pela segunda-vice. O engraçado é que Francismar Pontes, eleito na disputa contra Doriel, também não contou com o apoio oficial do seu partido. 

Resultado: não foi apenas a governadora que saiu chamuscada na eleição da Mesa, mas também o presidente do PSB, Sileno Guedes, que viu dois socialistas serem eleitos à sua revelia.

Outra derrota – A governadora queria também Doriel Barros (PT) na Mesa, como segundo-vice, para criar uma interlocução com o PT, interessada numa aproximação com o partido e com isso construir o discurso na relação que tenta criar com o presidente Lula. “Pela primeira vez, a Assembleia elegeu sua Mesa longe de qualquer interferência do Palácio”, relatou um parlamentar que foi testemunha das intervenções, sem sucesso, de Raquel, na eleição interna da Alepe.

Sileno perdeu para o próprio PSB – A eleição da nova Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, quarta-feira passada, revelou, também, o racha interno no PSB. Apesar de contar com 13 deputados, a maior bancada da Casa, o partido emplacou duas vagas na Mesa – Aglailson Vitor e Francismar Pontes – sem que o seu principal líder, o deputado e presidente estadual da legenda, Sileno Guedes, tenha trabalhado para elegê-los. Desde a morte de Eduardo, o PSB ficou órfão de liderança.

A ira de Raquel – Outro bastidor incontestável: quando a ficha da governadora caiu, se curvando ao poderio de Álvaro Porto, foi curta, dura e ríspida. Disse a ele que não queria o PSB na Mesa. Ela tem ódio mortal à legenda socialista. Sabido, Porto disse que não poderia atendê-la porque a presença do PSB na Mesa era fruto de uma negociação que atendia a chamada proporcionalidade. Para desespero dela, o PSB tem a maior bancada e como tal tem todo direito de estar representado na Mesa. Convencida, Raquel entrou então na briga para eleger Simone Santana primeira-vice, mas perdeu.

Cantada tucana – Depois da eleição de Mesa, a rádio-corredor da Assembleia Legislativa tem especulado que a governadora Raquel Lyra está tentando seduzir o primeiro-secretário Gustavo Gouveia a se desfiliar do Solidariedade e ingressar no PSDB, reforçando a sua base na Casa. Ele viria com o irmão Marcelo Gouveia, prefeito de Paudalho, ex-coordenador da campanha de Marília Arraes ao Governo do Estado.

Grosseria na ausência – Na reunião com os 46 dos 49 deputados estaduais, sexta-feira passada, a governadora tentou desconstruir o legado do PSB, em cima do qual as finanças do Estado estão sólidas. Mais do que isso, chegou a afirmar que o Governo Paulo Câmara desmontou o IPA, órgão técnico de apoio à agricultura. Presente ao encontro, o deputado Kaio Maniçoba (PP), que presidiu o IPA na gestão passada, já havia abandonado a reunião, mas ninguém do PSB saiu em sua defesa.

CURTAS

E O SOCIAL? – Ainda no encontro da bancada com a governadora, coube ao deputado Sileno Guedes fazer a intervenção mais inteligente: a ausência de políticas sociais na apresentação que Raquel fez em cima dos projetos que julga urgentes e prioritários.

SILÊNCIO TOTAL – Já o deputado Alberto Feitosa (PL) cobrou da governadora apoio para aprovação da PEC que permite os deputados legislarem sobre matéria financeira. Presente, a vice-governadora Priscila Krause se estressou. A governadora não deu um pio.

Perguntar não ofende: Lula decide esta semana o restante do segundo escalão?  

Fonte: Blog do Magno Martins.

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