sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Raquel Lyra retira do papel uma demanda histórica de Pernambuco

Especialistas ouvidos pelo Diario enxergam ação de Lyra como passo de reaproximação e mitigação de desgastes (Foto: Janaina Pepeu)
Especialistas ouvidos pelo Diario enxergam ação de Lyra como passo de reaproximação e mitigação de desgastes (Foto: Janaina Pepeu)

A redução do valor do Anel B, no sistema de transporte público por ônibus da Região Metropolitana do Recife, com a criação do chamado Bilhete Único reacende uma promessa política antiga. De acordo com as empresas operadoras, caindo de R$ 5,60 para R$ 4,10, a medida, anunciada ontem pela gestão Raquel Lyra (PSDB), representa uma baixa de 40% no faturamento e um déficit anual médio de R$ 60 milhões. Apesar de vista com bons olhos, sob a ótica do passageiro que utiliza e depende do serviço, parlamentares lançam à luz questionamentos sobre quem vai pagar essa conta.

                                                                                                                                                                                                                                       Publicidade     

 

Av. Dr. Francisco Correia 1333 prox :Assembleia de Deus Matriz ao lado da Casa do Nordeste em frente ao posto Trajano !~          

Ao longo dos 16 anos em que os socialistas estiveram ao comando de Pernambuco, passando pelas gestões de Eduardo Campos e Paulo Câmara, o assunto sempre figurou como promessa. Contudo, apenas neste segundo ano da nova gestão, conseguiu sair do papel. "É uma decisão importante para a população, atingindo o cenário econômico de forma direta, sobretudo aos trabalhadores. Porém, é colocada em prática estando ainda no campo das ideias, sem a apresentação concreta dos custos e sem nenhuma segurança se o governo vai conseguir arcar com isso", afirma o deputado Diogo Moraes (PSB), representante da Alepe no Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM).

Segundo Moraes, o usuário recebe a notícia, mas não sabe o que se passa nos bastidores. "Não tem ciência da falta de análise de custos, que toma como base valores defasados de 2022. Foi uma reunião que não teve espaço para discutir o contraditório, as lacunas deixadas. Um instrumento que foi aprovado, por unanimidade, mas sem representar diretamente que todos os entes envolvidos estão satisfeitos. Existem preocupações. O dissídio dos motoristas, por exemplo, acumula dois anos de perdas. O governo diz que vai injetar R$ 310 milhões, mas será necessário muito mais, algo que não está previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA), já em vigor", aponta.

A visão é reforçada pelo presidente do PSB, deputado estadual Sileno Guedes. "O medo que temos é de estarmos diante de uma nova pegadinha, a exemplo do IPVA que baixou e o ICMS aumentou, logo em seguida. Dar com uma mão e retirar com outra não é o que o povo espera e nem merece. A lei que garantia o subsídio às empresas expirou desde novembro passado e não há nada tramitando sobre o sistema de transporte. O que temos de concreto, que já é percebido nas ruas, é uma redução da frota e assim também no número de viagens. Os veículos estão velhos e sem nenhum sinal de renovação. O empresário não faz graça pra ninguém, se abaixa o valor da passagem, vai querer algo em troca", aponta.

Para a deputada Dani Portela (PSOL), a reivindicação é alvo de uma luta antiga de diversos movimentos. Entretanto, em sua visão, existem outros itens que ainda ficaram pelo caminho e agora podem se tornar mais difíceis. "Não podemos esquecer a Lei Estadual 16.787 que, em 2019, previu  a refrigeração gradativa dos ônibus em até quatro anos. Hoje, apenas 12% de toda a frota da RMR possui ar-condicionado", ressalta. A parlamentar também destaca a integração temporal, que mesmo com o decréscimo anunciado na tarifa, pode enfrentar dificuldades. "É preciso discutir se duas horas são suficientes, já que sabemos que há percursos longos e congestionados que duram bem mais que isso, gerando dupla cobrança", completa.

Na base do governo, o deputado Renato Antunes (PL) diz que o Bilhete Único, proposto por Lyra, chega como um redutor de injustiças e um fortalecimento de suas boas práticas. "Vamos conseguir dar mais dignidade para quem mora, por exemplo, no Ibura, no Janga, Jaboatão Centro, Olinda. Vão conseguir acessar o centro do Recife com o mesmo tarifário. Essa é uma primeira conquista, referente ao transporte público em Pernambuco. Vamos seguir trabalhando e fiscalizando, para que também o serviço seja melhor ofertado à população”, assegura.

O discurso é ampliado pelo deputado William Brigido (Republicanos), que defende que o governo  já costura a contrapartida financeira para o sistema. "Agora é fundamental não só o bilhete e a manutenção do valor da passagem, mas  a garantia de que a frota será ampliada e que os coletivos estejam equipados com o conforto que usuário necessita para termos um transporte público de qualidade. A fiscalização precisa ser eficaz”, disse.

Na mesma esteira, a deputada Socorro Pimentel (UB), diz que a população se depara com a concretização de uma demanda histórica, capaz de beneficiar centenas de milhares de pessoas que precisam se deslocar diuturnamente no transporte coletivo público na Região Metropolitana. "Foi aprovado por meio de um compromisso assumido pela governadora Raquel Lyra. E a gente fica feliz em fazer parte deste conjunto, estar participando de todas essas conquistas. Enxergamos assim a construção de um Pernambuco melhor para viver", afirmou.

POPULARIDADE
Para o cientista político Hely Ferreira, em ano de eleições municipais, muitas movimentações são estratégicas, de olho no possível aumento da popularidade. "O eleitor, no entanto, sabe separar as coisas e não pode ser subestimado. Apesar de positivas, são ações que não conseguem mudar o tabuleiro político no Recife e nem tampouco nas demais cidades que terão candidatos apoiados pela atual governadora", explica. Segundo o especialista, este pode ser o pontapé para o desencadear de uma agenda mais assertiva. "Muitos desgastes têm sido registrados, tendo como exemplo esta troca constante de lideranças no secretariado, demonstrando uma falta de sintonia dentro do Palácio, seja no transporte ou em qualquer outra área. É preciso mais alinhamento", opina Ferreira.

A também cientista política, Priscila Lapa, percebe um poder de impacto político da ação. "Ainda que não seja uma melhoria tão significativa, mas interefe na qualidade de vida imediata da população. A avaliação de governo, geralmente, não toma muito como base as promessas, lançamento de grandes programas. No entanto, medidas como essa que reduzem um custo imediato, têm um poder maior das pessoas recompensarem, avaliando positivamente aquele ator político", explica Lapa, que continua: "O transporte público é um tema muito sensível, assim como segurança, educação, saúde, mobilidade. São eixos que transmitem uma ideia de que o governo conseguiu sentir a dor do cidadão. É um gesto que pode, claro, se reverter politicamente muito favorável a Raquel", concluiu.

Fonte : Diário de PE.

Nenhum comentário:

Postar um comentário