Na relação com a Assembleia Legislativa, a governadora Raquel Lyra (PSDB) já sofreu alguns reveses, mas o mais grave ocorreu, ontem, quando foi retirado da pauta ordinária da Casa a discussão do pedido de empréstimo de R$ 3,4 bilhões. A tucana chegou ao poder máximo do Estado imaginando que iria impor ao Legislativo as mesmas regras de má convivência com a Câmara de Caruaru quando prefeita do município.
Ali, pintou e bordou. Chegou a proibir o uso dos celulares aos nobres parlamentares municipais durante uma reunião no seu gabinete. Não se trata de desligar o aparelho. Todos os celulares foram recolhidos pela segurança e só devolvidos após o encontro. Foi o ápice do seu estilo ditatorial. Com os deputados, sob a liderança de um presidente altivo e independente como Álvaro Porto (PSDB), harmonia entre poderes só existirá, saiba ela, quando houver respeito recíproco.
Enquanto insistir em tratar deputado como maltratou os vereadores da sua terra, vai se dar mal. Além de retirar de pauta o empréstimo, de forma habilidosa, Álvaro impôs mais duas derrotas acachapantes: aprovação das emendas impositivas e o poder da Casa de legislar sobre matéria financeira. Mas o que pesou, sobretudo, foi a pior derrota: aprovação do voto secreto para escolha de conselheiros do Tribunal de Contas do Estado.
Com isso, a Assembleia mandou o seguinte recado à governadora: sua candidata, a deputada estadual Débora Almeida, não contará com o apoio da maioria dos 49 parlamentares para ser escolhida sucessora de Teresa Dueire no TCE. Em pouco tempo, Álvaro mostrou que não tem medo de cara feia nem de nariz empinado.
Mostrou que seu compromisso é com a independência do Legislativo, para o qual foi eleito presidente por unanimidade, algo nunca visto na Casa. Na verdade, a eleição de Álvaro foi uma afirmação de autonomia do poder, porque a governadora nunca morreu de amores por ele. Queria eleger Antônio Moraes, mas recuou quando viu que sofreria uma baita derrota.
Encomendando a beca – Com o voto secreto para escolha dos próximos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, o que se diz na Assembleia é que o deputado Rodrigo Novaes (PSB) já pode preparar sua beca para posse como sucessor de Teresa Dueire na corte de contas. Novaes deve agradecer sua ida ao TCE a Diogo Moraes, queridinho na Casa. Não há um só parlamentar que não queira a volta dele. Eleito para o TCE, Rodrigo efetiva Diogo pela sua condição de primeiro suplente.
Briga feia – O grupo do ex-ministro Gilson Machado se reuniu com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. O encontro foi amplo e contou até com a presença do ex-presidente Bolsonaro. Em pauta, o pedido para retirar das mãos do ex-prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira, o controle do diretório em Pernambuco. Mas ninguém acredita que Valdemar irá trair Anderson, nem mesmo sob pressão de Bolsonaro. Trata-se de uma briga antecipada pela disputa também da Prefeitura do Recife nas eleições do próximo ano.
Razão da contenda – Gilson Machado, o deputado federal Coronel Meira e o deputado estadual Alberto Feitosa acham que o PL em Pernambuco não é serventia do bolsonarismo, mas do grupo Ferreira, que projeta apoiar no Recife o candidato a ser indicado pela governadora Raquel Lyra e não Gilson, candidato que o ex-presidente da República já reiterou, por diversas vezes, que é o seu preferido.
Vassourada no GSI – O ministro interino do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Ricardo Cappelli, determinou, ontem, a exoneração de 29 servidores da pasta, entre eles quatro que ocupam postos de comando do GSI. A medida foi tomada por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) num movimento que tem sido classificado por seus assessores no Palácio do Planalto como a ‘desbolsonarização’ do GSI. Cappelli assumiu interinamente o comando do GSI no último dia 19, imediatamente após a queda do general Gonçalves Dias por ter sido flagrado interagindo com invasores do Planalto nos atentados golpistas de 8 de janeiro.
Junta médica – O senador Jarbas Vasconcelos (MDB) ampliou, ontem, por mais 120 dias, sua licença médica. Se for necessário ampliar por mais tempo, além do que foi encaminhado, terá que se submeter a uma avaliação da junta médica do Senado, conforme o regimento da Casa Alta. Já houve casos de licenças que duraram até um ano, sem qualquer risco da perda do mandato, conforme se especulou ontem no Congresso quando Jarbas pediu nova prorrogação.
CURTAS
REFÉM 1 – A criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar os ataques de 8 de janeiro aos três Poderes da República deixa o governo Lula cada vez mais dependente do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Embora a comissão seja formada por deputados e senadores, é na Câmara que residem os maiores desafios do Palácio do Planalto para conquistar maioria em votações importantes.
REFÉM 2 – O governo cometeu erros ao longo do processo, agiu para desarticular uma apuração só no Senado, em ambiente mais controlado, e agora terá de pagar fatura ainda mais alta aos “aliados”, para evitar que as investigações se transformem numa CPI do Fim do Mundo.
Perguntar não ofende: Quando o Governo, enfim, vai anunciar os comandantes da Sudene e da Codevasf?
Fonte: Blog do Magno Martins.
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