segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Raquel vai governar sob tensão

 

Na posse, ontem, a governadora eleita Raquel Lyra (PSDB) voltou a insistir no discurso de união política para enfrentar e superar os desafios do seu governo de renovação. Mas, diferente de Lula, que montou um Ministério de coalizão, atendendo a todos os partidos que possam colaborar com a chamada governabilidade, a tucana seguiu um caminho oposto, não compartilhando a gestão com nenhum dos partidos aliados.

Raquel acha que governa sozinha, como fez em Caruaru. Autoritária, não é dada ao diálogo nem tem paciência para ouvir conselhos. Seria bom ler os conselhos de sábios, como Platão, que dizia que o castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus. Não consigo entender como se governará sem amarras de natureza política. Ninguém consegue. Bolsonaro é o maior e mais recente exemplo disso.

No primeiro ano de gestão, ainda sem seu governo ser atrapalhado pela pandemia, foi à TV se gabar de que seu Ministério era técnico, não refém dos políticos. Deu no que deu! Animal político, ao ser eleito, Lula agradou a gregos e troianos. Todos os partidos bateram palmas para a competente articulação política que levou a cabo na distribuição dos gabinetes na Esplanada dos Ministérios.

Já Raquel, sem o braço da política, já foi derrotada na Assembleia antes mesmo de tomar posse. Como assim? Muitos haverão de perguntar, mas no apagar das luzes de 2022, os deputados tiraram R$ 90 milhões do orçamento de 2023, primeiro ano da tucana, para aumentar seus salários e os dos servidores da Casa. Priscila Krause, vice-governadora eleita, ainda na condição de deputada, só conseguiu arregimentar dois votos para aprovar o veto do governador Paulo Câmara, que queria agradar a sucessora.

Raquel precisa ler Confúcio, pensador e filósofo chinês. Segundo seus ensinamentos, que se perpetuam ano após ano, sempre atuais, um governo é bom quando faz felizes os que sob ele vivem e atrai os que vivem longe. Sem dividir o bônus, exigindo apenas o ônus, o resultado do governo que se inicia nunca chegará a lugar algum se não tiver a recompensa para quem ajudou, no caso as lideranças e partidos que deram os votos para Raquel no segundo turno.

Derrota na Assembleia – Ao rifar partidos e políticos do seu governo, a governadora Raquel Lyra atingiu em cheio a candidatura de Álvaro Porto à Presidência da Assembleia e pode ter inviabilizado seu projeto. Além de ser do PSDB, partido da sucessora de Paulo Câmara, Porto perdeu o discurso entre os seus pares de que, eleito, todos os integrantes da Casa terão nele a certeza de que a relação com o Governo será uma via de mão dupla. As chances de a oposição emplacar um presidente da oposição cresceram bastante.

A polêmica da bandeira – A bandeira de Pernambuco ganhou uma versão estilizada, ontem, com os dizeres “Pernambuco agora vai”, numa postagem na qual elimina a representação do Estado, pelo símbolo da estrela, entre os entes federativos. A repercussão foi tão negativa que a postagem sumiu do Instagram oficial do Estado. Se essa for a primeira mudança, o novo governo já começa cometendo uma agressão à flâmula de Pernambuco, surgida antes da independência brasileira.

Culpa do governo passado? Ainda em relação à bandeira, o blog da jornalista Renata Gondim, que deu a notícia em primeira mão, também mostrou a reação de desaprovação por parte dos internautas. Uns questionaram a falta de estrela na nova bandeira, outros o cunho político da afirmação “Pernambuco agora vai” em uma página institucional. Mas, segundo Renata, a página do Instagram ainda estava sob o domínio do agora ex-governador Paulo Câmara.

Nada além da retórica – De um jornalista bem experiente, ontem, que disse ter ouvido de um parlamentar da base do Governo Raquel: “Como a governadora fala em união política quando ela própria diz que a casa (o Governo do Estado) está bagunçada e mal cuidada”? Certamente, essa união que a tucana prega é retórica. A União, de verdade, já começou a ser posta em prática por Lula em nível nacional.

Prisão de Bolsonaro – A temporada de Jair Bolsonaro na Flórida deverá ser bem menos tranquila do que ele esperava. Pelo menos essa é a aposta de alguns importantes auxiliares de seu governo que acompanham de perto, na medida do possível, os passos das investigações conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Ao site Metrópoles, sob absoluta reserva, ocupantes de postos destacados na hierarquia do governo que terminou dizem acreditar que Moraes está planejando a prisão de Jair Bolsonaro.

CURTAS

QUEM BANCOU? – Segundo uma fonte bem próxima ao Governo tucano, Evandro Avelar, escolhido secretário de Mobilidade e Infraestrutura, não passou pelo crivo de Daniel Coelho, como compensação pela perda da Empetur na sua pasta de Turismo. A indicação foi do presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo.

MISTÉRIO – Ninguém conseguiu decifrar, entretanto, o padrinho do secretário de Desenvolvimento Rural, Aloísio Ferraz, pasta que estava na cota do PP, de Eduardo da Fonte, que elegeu oito deputados estaduais, mas também não foi contemplado com cargos.

Perguntar não ofende: E o segundo escalão de Raquel, sai hoje ou vai demorar como o Secretariado? 

Fonte: Blog do Magno Martins.

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