O governador Paulo Câmara (PSB), que se despede do comando do Executivo estadual no fim do mês, abriu as portas do Palácio do Campo das Princesas, na sexta-feira (23), à equipe de política da Folha de Pernambuco para fazer um balanço dos oito anos de gestão.
Além das ações implementadas em áreas como educação, saúde se segurança pública, o governador abordou outros assuntos, como o de agora passar a ser oposição à próxima governadora, Raquel Lyra (PSDB).
“Vamos fazer oposição, sim, à próxima administração. Mas vai ser uma oposição responsável. Disse que o PSB e o PT devem seguir juntos nas eleições de 2024 e 2026 e assegurou ajudar o presidente Lula a reconstruir o Brasil da forma que ele precisar. Com ou sem cargo.
SEM HOLOFOTES
Eu nunca gastei energia com coisas desnecessárias. Infelizmente ainda tem muita gente que faz política apenas com os holofotes. Nunca me preocupei com isso. Me preocupei em fazer o que era certo fazer, diante dos desafios que foram esses últimos oito anos. O Brasil quebrou, tivemos pandemia depois. Tudo fez com que as coisas não acontecessem. É só vocês pegarem o exemplo do que vocês passaram nos últimos oito anos: as dificuldades do orçamento em casa, das empresas que geram empregos e tiveram de se adequar. Em momentos de crise, as pessoas migram do plano de saúde para o SUS; migram da escola particular para a escola pública. A segurança passa por um processo de vulnerabilidade maior, porque a vulnerabilidade social eleva o nível de violência. A gente teve que fazer muitos ajustes. E fazer as grandes obras que precisavam ser feitas.
OPOSIÇÃO RESPONSÁVEL
Sempre tratei as críticas com muita serenidade, sempre respondi aquilo que achei relevante, mas nunca fiz política da maneira fácil. Sei muito bem, com a experiência que eu já tive - oito anos como secretário e oito anos como governador - as dificuldades de se governar um Estado como Pernambuco. Por isso, tenho dito quando sou questionado que vamos fazer oposição, sim, à próxima administração. Mas vai ser uma oposição responsável. Porque a gente sabe as limitações de qualquer governante. Mas não vamos deixar de falar naquilo que for importante ser dito e ser criticado nas futuras administrações.
RETALIAÇÕES
Nós fomos oposição oito anos aos presidentes que estavam administrando o Brasil. Nos últimos quatro anos, vocês viram qual foi o tratamento que o presidente Bolsonaro deu ao Nordeste. Foi um presidente que não quis saber de atuar em termos federativos. Isso tudo foi dificuldade, e eu não poderia nunca baixar a cabeça a um Governo Federal que fez tanta coisa errada. A gente precisava dizer o que ele estava fazendo. E o Nordeste fez isso. Por isso, foi tão retaliado. Mas graças ao povo nordestino vamos ter um presidente que vai dar atenção ao Nordeste.
AÇÕES NÃO DIVULGADAS
Isso é uma estratégia e campanha se faz com o candidato e com os grupos. Eu gostaria mais que meu governo tivesse sido mais defendido, até porque muitas das críticas tinham defesa. Não foi uma campanha fácil (ao Governo do Estado), porque foram cinco candidatos competitivos. Tinha muita gente criticando e pouco palco para defesa. Mas Danilo (Cabral) fez uma campanha propositiva. Fez propostas para o futuro. E eu tenho a consciência muito tranquila em relação ao que fizemos porque ajudamos Pernambuco. Muitos Estados atrasaram a folha de pagamento e outros, até hoje, só têm equilíbrio porque estão dentro do plano de recuperação fiscal, um equilíbrio que não é consistente como o que construímos. Com todo o esforço que fizemos, as pessoas sofreram. O sentimento de mudança prevaleceu independentemente de qualquer coisa. Isso tem que ser respeitado.
BASE MUITO AMPLA
A dinâmica da política é isso Novos quadros vão surgindo, as pessoas têm ambições e muitas vezes procuram caminhos para atingir seus objetivos. Tínhamos, realmente, uma base muito grande, principalmente em 2014, e fizemos ajustes. Era uma base grande que não tinha identificação. Na reeleição já tínhamos uma base com mais identidade política. Hoje pensamos totalmente diferente da nossa oposição. Até porque sempre fomos contra a forma como o Brasil estava sendo administrado por Bolsonaro. Muitos aceitaram apenas alianças para ter dividendos eleitorais ou políticos momentâneos. O povo de Pernambuco não me elegeu para apoiar Bolsonaro. Me elegeu para ser oposição. E Bolsonaro fez um Governo que precisou ter oposição como a que fizemos. E a gente talvez tenha perdido apoio porque seguiu a coerência em relação ao que a gente acreditava.
PARTICIPAÇÃO NO GOVERNO LULA
Eu tenho dito e quero repetir aqui que me sinto muito contemplado na minha vida pública, ao ter sido governador por oito anos. Quem conhece minha trajetória viu claramente que eu não tinha essa ambição. O povo de Pernambuco me deu essa confiança por dois mandatos. Fui e sou defensor de primeira hora da aliança com o presidente Lula, entendia que era a única oportunidade que tínhamos para vencer Bolsonaro. Lula vai ter um desafio enorme de reconstruir o Brasil. Os partidos que têm responsabilidade política e com o Brasil têm que ajudá-lo. Se o presidente entender que a forma de ajudar é ocupando cargo, vamos ocupar cargo. Se ele achar que a forma de ajudar é não ocupando cargo, vamos continuar ajudando. Não tenho nenhuma pretensão mais na minha vida política. Até porque preciso também de tempo como pessoa física. Tenho que me dedicar um pouco mais à família e ter mais cuidado com minha saúde.
PAIXÃO PELA POLÍTICA
A política faz transformações. não tenha dúvida disso. nunca neguei a política mesmo não tendo uma convivência com ela antes de ser governador. Sempre entendi que se você não tiver a capacidade de conversar, de juntar, de agregar quem queira estar com você, você não vai ter êxito. O presidente Lula defende exatamente isso. Tanto que está fazendo um ministério com gente experiente não apenas em gestão, mas também na política. Isso vai ser fundamental para a reconstrução do Brasil. A gente sempre tem que defender a política e buscar fazer a boa política.
PSB FRAGILIZADO
Toda eleição é um aprendizado. O PSB teve uma diminuição muito grande. A bancada federal hoje é muito pequena em relação à que já teve. Pernambuco foi o único Estado que atingiu o planejado. Sempre trabalhamos com cinco, seis deputados federais, fizemos cinco. A maioria dos Estados não conseguiu. A gente tem que se preparar para o futuro, se não, o PSB vai perder a dimensão e a importância de um partido com sua história. Aqui em Pernambuco, mesmo com a perda do Governo do Estado, a gente continua a administrar a maioria dos municípios, a ter a maior bancada na Assembleia Legislativa, a maior bancada na Câmara, o prefeito da capital. Pernambuco tem tudo para ajudar no redimensionamento do partido. Agora, vamos ajudar o presidente Lula. Temos o vice-presidente Geraldo Alckmin. É sentar, planejar, fazer os ajustes em cada Estado e ter uma boa participação nas eleições de 2024 e de 2026.
IDAS E VINDAS COM O PT
A partir do momento que o PSB entendeu que tinha de contribuir para a eleição do presidente Lula, precisamos estar muito juntos do PT para ajudá-lo. A prioridade tem que ser a reconstrução desse país, isso precisa ser replicado nos Estados e nos municípios em que atuamos. Essa aliança teve idas e vindas, agora ela tem que ter só um caminho: o de ida. Não dá para mais dissociar até porque nós somos governo agora. Nós temos um vice-presidente, participamos de ministérios importantes - Justiça, Indústria e Comércio, Portos e aeroportos. Não há mais tempo nem espaço para se discutir que não seja uma aliança muito forte no campo progressista.
MÃOS ATADAS PARA O METRÔ
O metrô precisa ser recuperado. Ele está totalmente destruído. Chegamos a ter 40 vagões. Hoje, temos 14 ou 16. Ou seja, ele está num processo de canibalização. Quebra uma peça, ele pega de um que está parado e vai ajustando. Daqui a pouco só tem a carcaça porque vão tirando as peças boas. Ele dá um prejuízo à União pela falta de investimento de algo em torno de R$ 300 milhões por ano, ou seja, precisa se ter uma negociação onde se faça um processo de recuperação do metrô. O Governo do Estado hoje não tem condições de atuar sozinho sem ter o apoio federal. Eu não tive nenhum. Foi zero. O próximo governante vai ter uma discussão a ser feita, mas vai ter um Governo Federal que vai querer ajudar a encontrar uma solução.
ECONOMIA
A gente teve a preocupação desde o começo de fazer um governo em que a gestão funcione e que os números sejam condizentes com o que a gente quer para Pernambuco. A pior coisa do mundo é você governar com desequilíbrios. Tivemos muitos desafios, mas a gente deixa um estado com as contas equilibradas, com sua capacidade de pagamento em um padrão muito bom, com recursos em caixa, com níveis de endividamento nunca vistos antes. Nunca tivemos um momento de tão pouco endividamento como agora. Vamos deixar o estado em um padrão de gestão e de finanças muito bom para o futuro. A gente está deixando o estado bem melhor do que recebemos em todos os sentidos e com uma perspectiva de futuro bem mais otimista.
EMPREGOS
A geração de emprego em Pernambuco, desde o início do Plano de Retomada, atingiu todas as metas que tínhamos traçado, que eram 130 mil novos empregos. A gente vê uma diminuição do desemprego, grandes empreendimentos chegando e acontecendo.
RECURSOS EM CAIXA
Tudo aquilo que planejamos, como é nossa tradição, cumprimos; e Pernambuco hoje tem uma condição que nunca teve antes: recursos em caixa – vamos deixar quase R$ 3 bilhões; uma carteira de obras em andamento que são muito importantes serem finalizadas, principalmente o plano rodoviário, o plano da expansão da oferta de água, uma série de obras acontecendo dentro dos municípios.
SALDO
Vamos deixar Pernambuco numa condição nunca vista antes na educação, com a saúde interiorizada, com leitos de UTIs em todas as regiões, com estruturas de alta e média complexidade funcionando em todas as regiões. Vamos deixar Pernambuco com a menor taxa de homicídios de sua história. São conjuntos de ações que, no meu entendimento, precisam ser continuadas em favor de Pernambuco e podem ter certeza de que a nossa responsabilidade com a gestão pública sempre foi a nossa marca, desde o início.
SEGURANÇA PÚBLICA
O desafio que tivemos foi de reduzir a violência com um ambiente econômico desfavorável, que foram esses últimos oito anos, e com a pandemia, quando a gente via o crescimento do crime organizado, do tráfico de drogas em todo o país. Nós vimos nos últimos quatro anos, também, a irresponsabilidade da liberação de armas por parte do Bolsonaro. Mais armas em circulação é claramente um fator potencial de aumento de criminalidade, e nós conseguimos diminuir taxa de homicídio. Hoje, temos a menor taxa da história. Nunca tivemos números tão positivos em relação a crimes violentos – patrimônio, roubo, furto e assalto. Então, quem critica o Pacto pela Vida não conhece, porque critica apenas pelo que ouve falar. Tem que conhecer. Tem que entender o que é política pública.
CULTURA
O nosso FunCultura é reconhecido nacionalmente como uma das políticas públicas mais bem-sucedidas, e nós, mesmo com as dificuldades financeiras, nunca deixamos de cumprir com nossas obrigações. O FunCultura nunca foi contingenciado, mesmo nos períodos mais críticos, como o da pandemia. Nós sempre valorizamos nossas expressões, sejam musicais, seja o artesanato – A Fenearte, ano a ano, vem batendo recordes de vendas, público, faturamento, de negócios. E nós buscamos com a pandemia não deixar faltar os incentivos à cultura para que nossos artistas pudessem efetivamente ter apoio nesse período, que foi o mais sacrificado. Procuramos fazer os editais, ações que vinculassem às lives e outras coisas. E tão logo a retomada aconteceu, no final de 2021, também fizemos um investimento recorde nas ações culturais em 2022, em que, desde o São João a gente tem incentivado muito as atividades culturais e vamos deixar todo um aprendizado sobre Carnaval que vai caber ao próximo governo utilizá-lo para o futuro.
ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA
A gente viu como o Brasil andou para trás nesses últimos quatro anos. Muito mais vidas teriam sido salvas se tivéssemos tido uma coordenação nacional, porque precisou-se comprar muitos equipamentos em tempo recorde e não houve uma coordenação, ou seja, cada estado teve que ir atrás, procurar fornecedor e fazer compras internacionais sem ter nenhuma experiência nisso. Então, mostrou que as políticas precisam ter um olhar nacional e a saúde não pode ficar nunca fora disso. Essa questão da vacinação é fundamental. O Brasil estava andando para trás em relação à cobertura vacinal e isso tem que ser recuperado, porque vacinas salvam vidas.
INTERIORIZAÇÃO DA SAÚDE
A gente avançou na interiorização da saúde, principalmente em especialidades que exigem uma média ou alta complexidade. No Hospital Mestre Vitalino, em Caruaru, triplicamos a quantidade de leitos e a capacidade de atendimento. Duplicamos o atendimento de Afogados da Ingazeira, Arcoverde e Garanhuns. Criamos um hospital novo em Serra Talhada para média e alta complexidade, principalmente na questão do trauma, que precisa de um atendimento rápido. Quanto mais tempo demora, maior a possibilidade de óbito ou sequelas. Colocamos leitos de UTI em todas as regiões. Quando iniciamos o governo, tínhamos mil leitos de UTIs; hoje temos mais de 1,5 mil.
ENSINO INTEGRAL
Quando Eduardo (Campos) assumiu o governo, tínhamos dez escolas em tempo integral e que eram ilhas de excelência, ou seja, estavam ali os melhores alunos, melhores professores, com uma política que não era inclusiva. Depois, Eduardo criou o modelo de universalização e nós avançamos. Hoje, as vagas estão garantidas em todo o ensino médio. Levamos o tempo integral para o ensino fundamental nos anos finais. Já estamos com 35% de cobertura. Mas isso vai precisar ser continuado em uma conjunção muito grande com os municípios e, mais uma vez, o governo federal tem que está atuando nisso. Em educação, o caminho já está trilhado. Se o (próximo) governante tiver responsabilidade e seguir esse caminho, tem tudo para dar certo no futuro. E avançamos muito no ensino técnico, no qual Eduardo encontrou seis escolas, deixou 27 e eu estou deixando com 61.
PARCERIA COM OS MUNICÍPIOS
Em 2019, criamos o Criança Alfabetizada, que é uma parceria com os municípios para alfabetizar crianças na idade certa e com qualidade. A pandemia atrapalhou o desenvolvimento desse programa, mas ele foi retomado. Hoje, municípios que têm melhores resultados na educação, tem também uma retribuição via ICMS maior, então investir em educação dá retorno também financeiro para os municípios. Nós acompanhamos aqueles que estão evoluindo menos justamente para fazer ações em conjunto.
ARENA DE PERNAMBUCO
Antes da pandemia, a Arena já estava numa sustentabilidade bem interessante entre o que arrecadava e o que se gastava para mantê-la. E com essa retomada tem tudo para também se equilibrar e se ver o modelo de negócio, porque nós tínhamos interesse, lá atrás, de fazer com que ela fosse administrada por um privado, que ia dar uma dimensão como a gente viu em outras arenas. Nós estamos realizando jogos, embora não seja a quantidade que gostaríamos, mas tem expectativas de os times jogarem mais, já estamos começando a trazer grandes atrações A pandemia atrapalhou, mas há campo para se estudar, até porque os gargalos de mobilidade estarão bem mais aliviados com a duplicação da BR-232 e ao mesmo tempo a gente tem uma expectativa positiva para crescimento econômico. A quantidade de shows e de ações também possam fazer a diferença nesse segmento, que Pernambuco tem muito know-how.
Fonte:Blog da Folha de PE.
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