O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um gol de placa ao convidar o ex-ministro José Múcio Monteiro, do Tribunal de Contas da União, para tocar o Ministério da Defesa. Área extremamente conflituosa e tensionada na gestão Bolsonaro, as Forças Armadas – Exército, Aeronáutica e Marinha – necessitam de um comandante articulado, experiente, paciência de Jó e respeitado.
José Múcio tem tudo isso. Construiu sua trajetória política marcada pelo tom da conciliação. Até mesmo no momento mais traumático que viveu, logo no início da sua vida pública, quando levado a disputar o Governo de Pernambuco contra Miguel Arraes, um mito revigorado que havia chegado do exílio, nunca perdeu a elegância nem o bom humor. Saiu da derrota maior que entrou.
No Congresso, como deputado federal, construiu viadutos de relacionamentos, foi querido, amado e respeitado. Notabilizou-se hábil articulador quando descascou o abacaxi da liderança do Governo Lula na Casa. Sob o seu comando, o Governo petista nunca foi derrotado na Câmara. Credenciou-se para uma missão mais espinhosa ainda, a de ministro da Articulação Política de Lula.
Antes dele, Lula testou vários nomes, mas nunca se livrou das tensões de natureza política entre o Congresso e o Planalto. José Múcio entrou para a história republicana como o melhor ministro das Relações Institucionais da fase que se inicia com a redemocratização, em 1989, até os dias atuais, conforme atesta qualquer liderança sóbria no Congresso e o próprio Lula.
O genial Nelson Rodrigues, escritor das mais contundentes tiradas políticas, dizia que toda unanimidade é burra. José Múcio nunca quis estar acima do bem e do mal, mas foi de forma irrepreensível um ministro que, ao apagar as labaredas de fogos constantes na era Lula, ganhou o respeito além do seu partido na época, o PTB, chegando a converter as mentes e os corações do PT.
Na Defesa, da mesma forma como atuou no Congresso e em seguida no Tribunal de Contas da União, José Múcio nunca irá para o ataque, porque não é do seu feitio. Nasceu talhado para ser defesa, literalmente. Por isso, os generais, tanto da ativa como da reserva, a exemplo do vice-presidente Hamilton Mourão, já batem palmas para a sua escolha.
Haddad na Fazenda – Lula tem sido pressionado para anunciar quem será o novo ministro da Fazenda. Aliados veem a indicação como importante para acalmar os ânimos do mercado financeiro, articular a aprovação da PEC e, principalmente, explicar qual será o rumo da política fiscal do governo. O principal cotado para a área é o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad. O mercado ficou fortemente abalado com a participação do ex-ministro num almoço com banqueiros na sexta-feira passada em São Paulo. Os rumores cresceram após viagem dele à capital federal junto ao presidente eleito.
Ninguém gostou – A deputada federal eleita Iza Arruda (MDB) lembrou, ontem, no Frente a Frente, do nome do presidente estadual do seu partido, Raul Henry, como sugestão da legenda para integrar o Secretariado da governadora eleita Raquel Lyra (PSDB). A reação, entretanto, foi muito ruim, porque nem na Cultura, que é a área dele, Henry conseguiu notabilidade quando ocupou a função, acumulando com Educação.
Três certos – Além de Haddad, outros nomes dados como certos no governo Lula são Simone Tebet (MDB), no Ministério do Desenvolvimento Social, Marina Silva (Rede), no Meio Ambiente, e Rui Costa (PT), na Casa Civil. Os demais, pelo menos até então, são meras especulações, embora Lula esteja disposto a contemplar todos os partidos da sua futura base no Congresso, inclusive os mais alinhados ao bloco chamado Centrão.
Olho nas comissões – Com a terceira maior bancada para a legislatura de 2023 na Câmara dos Deputados, o PT, do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, prevê conquistar o comando das principais comissões da Casa no próximo ano. A sigla já acenou que não deve participar da disputa para a presidência, que hoje é ocupada pelo alagoano Arthur Lira (PP). Ao abrir mão da cadeira, a legenda negocia presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e a Comissão de Finanças e Tributação (CFT). Hoje, a CCJ é comandada pela deputada bolsonarista Bia Kicis (PL-DF).
Em boas mãos – Hamilton Mourão, general da reserva, vice-presidente e senador eleito pelo Republicanos do Rio Grande do Sul, bateu palmas para a possível escolha de José Múcio para a Defesa. “Será um nome positivo. Tenho muito apreço e respeito pelo ministro Múcio, com quem tive excelente relação quando ele estava no TCU. Julgo que será um nome positivo para o cargo”, afirmou, ontem, em entrevista ao Estadão.
CURTAS
MINAS SE CURVA – Um dos mais influentes apoiadores de Bolsonaro na campanha, o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), admitiu interesse em se reunir com Lula. “Meu estilo não é o de jogar pedra e também não é o de ser um bajulador. Eu sou muito prático. O que for melhor para Minas, estaremos discutindo”, afirmou Zema.
FARINHA – Com novo mandato conquistado no Acre, Gladson Cameli (PP) também decidiu estabelecer contato com Lula. Cameli se encontrou com o presidente eleito na COP-27, no Egito. “Em dois minutos de conversa, já pedi dinheiro e falei das BRs”, afirmou o governador. “Ele me pediu a farinha de Cruzeiro do Sul e depois da posse já vou levar”.
Perguntar não ofende: Raquel Lyra vai anunciar o secretariado aos poucos ou de uma só vez?
Fonte:Blog do Magno Martins
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