terça-feira, 26 de outubro de 2021

Sem Armando, todos japoneses

 

Ao longo dos últimos meses, meu nome passou a ser ventilado para disputar um mandato político. Acredito ser fruto do jornalismo cidadão que abracei desde o dia que botei meus pés pela primeira vez numa redação, a do bicentenário Diário de Pernambuco. Foi nos anos 80. Vindo do Interior, não tinha a menor noção do arcabouço de um matutino tão afamado, cuja redação foi também tribuna de uma geração de ouro do jornalismo, como Aníbal Fernandes, e de celebridades, como Gilberto Freyre e Manuel Bandeira.

Uma época em que se vivenciava jornalismo romântico, resultado do casamento da comunhão com a boemia. Era prazeroso e emocionante assistir à impressão barulhenta do jornal saindo da fornalha da oficina, com forte cheiro de tinta, já tarde da noite, entrando pela madrugada depois de jogar muita conversa fora no Dom Pedro, o bar-restaurante point de jornalistas e políticos.

Os tempos mudaram e se encarregaram de aperfeiçoar a forma trabalhosa de fazer chegar até ao leitor manchetes como produtos de espinhosas investigações. Do impresso, passamos para o online, mutação radical. Só não na minha visão de jornalista e de fazer a notícia. No conteúdo e no estilo, me mantendo intacto, na estrada ou dentro de um avião, em busca de fatos de repercussão, de interesse coletivo relevante em defesa dos que não têm voz.

Faço jornalismo por vocação e prazer. Tenho o orgasmo do furo, faro de pastor Alemão para caçar notícias e disposição de um gigante na apuração. Quanto ao gosto pela política, considero herança do meu pai, o quase centenário Gastão Cerquinha, vereador por quatro mandatos e vice-prefeito de Afogados da Ingazeira, nosso chão seco, mas apaixonante. Fui testado ontem pela primeira vez numa pesquisa estadual para uma disputa majoritária, o Senado, a Casa Alta que revisa ou aperfeiçoa as leis emanadas pela Câmara dos Deputados, a Casa do povo.

Aparecer com 3,2% das intenções de voto no geral para o Senado, chegando a 7,5% em regiões como o Sertão, sem nunca ter afirmado que sou candidato, foi gratificante, até porque, com exceção do ex-senador Armando Monteiro, que lidera com 23%, mas não é candidato, todos despontam com percentuais bem próximos ao meu. Não estou picado pela mosca azul nem tampouco entrarei em aventura. Só deixarei de fazer notícia para ser notícia se for algo que realmente possa se transformar em grito uníssono da sociedade. Pernambuco precisa mudar e se renovar. Mais do que isso, virar uma página penosa. Chega de tanta maldade com seu povo! Há muito deixamos de ser aquele Leão do Norte. Viramos um gatinho pardo, esmagado pela Bahia e o Ceará e, em alguns setores da economia, como o turismo, ameaçados até pela Paraíba.

A eleição para o Senado, no meu entender, está aberta e se apresenta para uma disputa na qual todos hoje são japoneses, iguais no lastro político e na densidade eleitoral. Uma disputa para o Senado inédita, porque o governador não é candidato nem o donatário do mandato, Fernando Bezerra Coelho, disputa a reeleição. As cartas dos japoneses estão sendo postas à mesa, mas o jogo só será jogado a partir de abril.

Saia justa – Ao anunciar, ontem, por este blog, que renuncia o mandato de prefeito de Jaboatão em abril, Anderson Ferreira (PL) pôs uma saia justa na prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB). Como estão acordados num apoio recíproco para o Governo do Estado, nas entrelinhas Anderson obrigou Raquel a sair do muro. Dos três pré-candidatos a governador, só a tucana ainda não assumiu que pode entrar no páreo. Aliados da própria prefeita acham que ela dificilmente seguirá o caminho de Anderson, que teve a coragem para dizer que não está blefando.

Olho no Senado – Anderson Ferreira, por outro lado, deixou a entender que está no jogo para disputar o Senado na chapa que seria encabeçada por Raquel Lyra. "Estou renunciando para ser candidato a governador ou senador. Meu destino dependerá de Raquel", afirmou. Anderson e Raquel anunciaram um acordo há mais de 40 dias, pelo qual o que estiver melhor posicionado nas pesquisas será candidato a governador com o apoio do outro. Se os próximos cenários forem favoráveis à Raquel, como mostrou o levantamento do Opinião ontem, Anderson trocará a robusta e poderosa segunda maior receita do Estado pela disputa ao Senado.

Isolado –  Raquel e Anderson comemoram o resultado da pesquisa do Opinião passando a ideia de que Miguel Coelho se isolou e ficou fragilizado depois do acordo entre eles. Chegaram a fazer a soma da intenção de votos dos dois como resultado do grande segredo para derrotar o candidato do PSB. Acham que o casamento do Agreste, de onde Raquel parte, com a Região Metropolitana, território onde está localizado Jaboatão, é infalível. Teoricamente, podem estar certos, mas a política não é uma ciência exata.

Equívoco – Raquel e Anderson também concordam que Miguel Coelho cometeu um erro infantil ao procurar o apoio do PDT à sua candidatura quando lá atrás havia prometido a prefeita de Caruaru esperar uma definição por parte dela em relação a 2022. "Miguel foi a Caruaru bater na porta de Wolney Queiroz, um dos maiores adversários de Raquel. Pisou na bola", disse um aliado do prefeito de Jaboatão.

Dúvida atroz – Deputado federal por três mandatos, Maurício Rands recebeu convite formal ontem, do presidente do PL, Anderson Ferreira, para ingressar no partido e disputar um mandato federal. Rands já recebeu sondagens de mais três outras legendas, mas não se convenceu ainda de que estará fazendo a melhor opção para sua vida. "Estou muito confuso, até porque meu escritório de advocacia atravessa um belo momento", disse. Excelente parlamentar, Rands se desiludiu com a política e chegou a renunciar ao mandato quando o PT fraquejou no apoio que seria indispensável ao seu projeto de governar o Recife.

CURTAS

GREVE – O anúncio da Petrobras de aumentar os valores do diesel em 8,8% nas refinarias caiu como uma bomba entre os caminhoneiros autônomos e ajudou a colocar mais lenha na fogueira pela paralisação agendada para o dia 1º de novembro, que tem como principal pauta justamente a alta do combustível. Plínio Dias, presidente da CNTRC (Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas), disse que os aumentos da Petrobras nos combustíveis favorecem exclusivamente os acionistas da empresa. E ressaltou que pode haver paralisação em 1º de novembro.

FILIAÇÃO - O PSD (Partido Social Democrático) anunciou oficialmente que a cerimônia de filiação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, será amanhã, às 11h, no Memorial Juscelino Kubitschek, em Brasília. Pacheco elegeu-se senador em 2018, pelo DEM de Minas Gerais. Com a troca, o PSD passará a ocupar as três vagas da bancada do Estado na Casa, que já conta com Carlos Viana e Antonio Anastasia.

Perguntar não ofende: Cadê o início das obras de recuperação de estradas anunciado pelo governador?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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