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O PSL realizará na próxima quarta-feira convenção que oficializará fusão com o DEM, abrindo alas para o mais novo partido do país, o União Brasil. Experienciando fases distintas, o DEM - antigo PFL - vem trilhando um caminho de esvaziamento no cenário político; enquanto isso, o PSL, antes um partido nanico, ostenta uma maior musculatura obtida de um relacionamento efêmero com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 2018. As duas legendas visam somar forças para as eleições de 2022 e assim conquistar mais territórios políticos pelo país. Em Pernambuco, a indicação de Miguel Coelho (DEM) como pré-candidato ao governo dá o tom das movimentações pelo Nordeste.
As articulações entre o DEM e o PSL são vistas como estratégias importantes para a permanência do grupo no tabuleiro político. Com a fusão entre as partes, a nova sigla, que se chamará União Brasil, se tornará a maior bancada da Câmara Federal, reunindo um total de 82 deputados na Casa, além de passar a desfrutar de maior tempo de televisão e rádio e de verbas advindas do fundo partidário e eleitoral. Esses são pontos importantes que podem ajudar a resgatar os anos dourados vividos pelo DEM em 1998 – à época Partido da Frente Liberal (PFL) –, quando ocupava 105 cadeiras na Câmara, sendo a maior bancada da Casa Baixa. Na legislatura atual, esse número caiu para 28 deputados.
De acordo com o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ernani Carvalho, um dos principais fatores que explica o processo de esvaziamento vivido pelo DEM – partido que sempre buscou proximidade e diálogo com o governo federal ao longo de sua trajetória - foi a ida para a ala oposicionista durante os governos petistas, já que até o último mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a sigla esteve presente em todos os governos. “Ao assumir o poder, (o ex-presidente) Lula (PT) incentivou a formação de um arco de aliança gigantesco e isso terminou impulsionando o isolamento de partidos da oposição”, explica Ernani.
Pernambuco
Fundado em 1985, o PFL – atual Democratas - construiu no Nordeste uma trajetória de forte influência, sendo essa uma das principais regiões estratégicas para suas articulações políticas atualmente, apesar da perda de influência nos estados nordestinos. Nomes como o do ex-governador Antônio Carlos Magalhães, na Bahia, e o do ex-vice-presidente da República Marco Maciel, em Pernambuco, são alguns dos exemplos das lideranças que marcaram história dentro do partido na região.
Com a reestruturação do grupo em 2007, passando a se chamar Democratas, a sigla tinha o objetivo de ganhar mais força nos municípios, mas os resultados foram decepcionantes, a exemplo das eleições ocorridas em 2008 no Recife, quando Mendonça Filho (DEM) – atual presidente do Democratas em Pernambuco - concorreu como candidato a prefeito, mas perdeu para João da Costa (PT), que venceu ainda no primeiro turno.
Buscando reverter esse cenário, Mendonça tem buscado pavimentar caminhos que favoreçam a chegada do partido ao poder no estado pernambucano. A aposta demista gira em torno do nome do prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, filiado no último dia 25 de setembro ao DEM. Com a fusão entre Democratas e PSL, as chances de Miguel obter resultado positivo no pleito do próximo ano serão ampliadas. “Aqui em Pernambuco, especificamente, eu diria que essa fusão vai dar um gás muito grande (...) Há uma pretensa renovação da disputa que antes ficava na mão de caciques estabelecidos, agora estão apostando em algo novo”, aponta o professor Ernani Carvalho.
Análise também partilhada por Mendonça Filho que em entrevista ao Diario de Pernambuco fez questão de tecer elogios ao pré-candidato. “Eu tenho defendido o nome de Miguel Coelho que, pra mim, é um jovem talentoso, qualificado, tem se saído muito bem como prefeito de Petrolina”, comentou o ex-ministro que não deixou de mencionar a busca pelo diálogo com outros nomes da oposição. “Mas ao mesmo tempo também tenho defendido uma harmonização no debate no campo da oposição, respeito os demais nomes como o da prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), que é muito competente, bem como o prefeito (de Jaboatão dos Guararapes) Anderson Ferreira (PL)”.
Questionado sobre quais benefícios o estado pernambucano desfrutará com a fusão entre DEM e PSL, Mendonça diz acreditar que o surgimento do União Brasil vai redirecionar o grupo aos caminhos de retomada dos momentos que marcaram época dentro do DEM. “A busca pelo resgate histórico do que foi o Democratas é um detalhe importante, é uma fase nova com a fusão, mas não deixa de ser também uma relação direta com nossa raiz histórica”, diz Mendonça.
PSL
Fundado em 1994 pelo deputado federal Luciano Bivar, o PSL é conhecido por seu viés conservador e liberal. Atualmente, a sigla é comandada nacionalmente pelo pernambucano Bivar, que é cotado para assumir o diretório nacional do novo partido União Brasil. Em Pernambuco, o parlamentar também deve assumir a liderança da sigla. Com uma trajetória inicial que lhe classificava enquanto um partido nanico, o PSL passou a ganhar robustez com a filiação do presidente Bolsonaro à legenda em 2018, relacionamento que durou pouco tempo, visto que, em 2019, o presidente se desfiliou da legenda após desentendimentos com o presidente nacional da sigla..
Em 2014, o PSL conseguiu eleger um único deputado federal. Nas eleições seguintes, esse cenário mudou com a influência bolsonarista, fazendo com que, em 2018, 52 deputados federais do PSL fossem eleitos, rendendo ao partido uma das maiores bancadas da Casa, ficando atrás apenas do PT, que possui 53 parlamentares eleitos. Apesar do presidente nacional da sigla ser pernambucano, a legenda nunca teve forte influência no estado, realidade que se apresenta através dos números das últimas eleições na região. Em 2014, o PSL conseguiu eleger no estado apenas um deputado estadual, enquanto que em 2018 elegeu apenas um deputado federal, o próprio Luciano Bivar.
Com a chegada do novo partido, o União Brasil, é esperado que a influência do DEM e PSL seja ampliada em Pernambuco, tendo a seu favor maior tempo de propaganda em rádio e tv e recursos eleitorais. “Sair das eleições de 2022 com orçamento turbinado, com tempo de TV e rádio (...) envolve toda uma visão estratégica de tomada de poder por parte desse segmento”, avalia o professor Ernani Carvalho.
“Trabalharemos para fortalecer a presença positiva no Parlamento e na política brasileira”, conclui Mendonça Filho sem esquecer de mencionar a nova dinâmica política para as próximas eleições com o fim das coligações. “Vai significar um enxugamento do quadro partidário brasileiro, então essa realidade será diferente nas eleições de 2022”.
A reportagem tentou entrar em contato com o deputado federal Luciano Bivar, mas a assessoria informou que o parlamentar só dará entrevistas após a convenção que oficializará a fusão entre DEM e PSL, no dia 6 de outubro.
Fonte: Por: Elizabeth Souza.
Diário de PE.
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