Representantes dos mais diversos segmentos da sociedade brasileira encheram as ruas das principais capitais, domingo passado, numa manifestação em favor do voto impresso ou auditável, tese pregada pelo presidente Bolsonaro com a desconfiança de que a sua sucessão em 2022 corre risco de ser fraudada.
Mas sem dar ouvidos a voz rouca das ruas, presidentes de partidos que fecharam posição contrária à proposta do voto impresso que tramita na Câmara dos Deputados afirmaram, no dia seguinte aos atos, que em nada irão fazer com que a proposta avance. “Efeito zero. Não muda nada. Estamos seguros de que o voto impresso não é necessário. Confiança total nas urnas eletrônicas”, disse Paulinho da Força, do Solidariedade. “No PSD continuamos firmes contra”, disse Gilberto Kassab, presidente da legenda.
Manifestações pelo voto impresso foram registradas em ao menos 25 capitais. Os atos aconteceram depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmarem que a discussão sobre o voto impresso é “perda de tempo “. A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 135/2019, apresentada pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O presidente tem feito diversas declarações de críticas ao sistema eleitoral com a urna eletrônica, mas não apresentou nenhuma prova de fraudes até o momento. Na live de quinta-feira passada, convocou a imprensa para acompanhar a apresentação de supostas fraudes em eleições anteriores. Mas o chefe do Executivo não apresentou provas e citou “indícios”. O discurso foi criticado pela oposição e rebatido, em tempo real, pelo Tribunal Superior Eleitoral com dados sobre o sistema eleitoral.
Em 26 de junho, representantes de 11 partidos se reuniram para se posicionarem contra a PEC: DEM, MDB, PSDB, PP, PSD, PSL, Avante, Republicanos, Solidariedade, Cidadania e PL. Desde então, o Republicanos abandonou a iniciativa. Ainda assim, os líderes partidários contabilizam 22 votos contrários à PEC na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Para que a proposta seja barrada na Comissão são necessários 18 votos.
Olho no MDB – O governo ainda tenta uma aproximação com o MDB. Dentro do Palácio do Planalto há conversas para que o partido ocupe um ministério. As informações são do jornal O Globo. O presidente da sigla, deputado Baleia Rossi (SP), já avisou que o congressista que aceitar um convite do governo terá que se desfiliar. Essa aproximação será a principal missão do novo ministro da Casa Civil, o senador Ciro Nogueira (PP-PI). Ela acontece no mesmo momento em que o presidente passa por fortes ataques vindos da CPI da pandemia, inclusive de Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão. Nogueira já externou a aliados que é pessimista quanto à possibilidade de atração de nomes do partido críticos ao governo. Entretanto, pesa o fato de o MDB ter composto a base de apoio de todos as gestões desde a redemocratização, exceto a atual.
Pauta econômica – Depois de concluída a minirreforma ministerial, que colocou Ciro Nogueira (PP-PI) à frente da Casa Civil, a equipe econômica do governo Jair Bolsonaro tem esperança de que a agenda de reformas e privatizações avance no Congresso. Ontem, deputados e senadores voltaram à ativa depois do recesso parlamentar. Ciro Nogueira, que toma posse amanhã, deixou o posto de senador para assumir o ministério. A principal tarefa dele será negociar a aprovação de projetos do Planalto com o Congresso. O novo ministro é líder do Centrão, grupo de partidos alinhados com o presidente.
Integrar o NE – Do deputado federal André de Paula (PSD) sobre a polêmica envolvendo o trecho da Transnordestina em Pernambuco: “Não se trata de um projeto de uma ferrovia para Suape ou para Pecém. A concessão foi feita há quase 26 anos e a gente não tem uma obra construída. Em sua concepção, a Transnordestina é uma obra de integração regional. Portanto, ela não é uma obra do Ceará ou de Pernambuco. É uma obra que integra as diversas cadeias de produção e de logística, não foi pensada para poder resolver o problema econômico de Suape ou o problema econômico de Pecém, mas sim para integrar o Nordeste e, a partir disso, integrar a região em outras cadeias produtivas”.
Com Dória – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) saiu do muro. Declarou publicamente voto no governador de São Paulo e colega de partido, João Doria, para a Presidência da República em 2022. A sinalização ocorreu meses após o almoço de FHC com o pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele é candidato à Presidência e tem o meu voto", disse o presidente de honra do PSDB, apontando para Doria, durante evento que fez parte da agenda de comemorações pela reinauguração do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, sábado passado.
Pau em Barroso – O presidente Jair Bolsonaro acusou, ontem, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, de "querer eleições manipuladas" ou que possam "trazer incertezas no futuro" e afirmou mais uma vez que Barroso trabalha contra a aprovação do voto impresso. Em entrevista à rádio ABC, do Rio Grande do Sul, Bolsonaro voltou a atacar o ministro, o TSE e o Supremo Tribunal Federal (STF), a quem acusa de agir contra a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição que propõe mudanças nas urnas eletrônicas.
CURTAS
LULA NO RECIFE – O PT quer trazer o ex-presidente Lula a Pernambuco até o final da primeira quinzena deste mês, para celebrar o entendimento com o PSB na disputa presidencial em aliança. Não há registro de nenhuma manifestação popular, apenas contatos com lideranças dos mais diversos partidos que integram o arco de apoio ao Governo Paulo Câmara.
Bêbado e corrupto – De Bolsonaro no ataque a Lula: “Se Lula for eleito em 2022, o Brasil acaba. É um bêbado, cachaceiro, incompetente e corrupto. Se esse picareta voltar, qual o perfil daqueles que ele vai indicar para o Supremo? Acabou o Brasil, pessoal. Acabou a democracia, a liberdade, tudo. Problemas a gente tem. Agora quer trocar o motorista e botar um bêbado, incompetente e corrupto para dirigir o Brasil?”
Perguntar não ofende: Ao declarar apoio a Dória, FHC sinaliza que o governador paulista vence as prévias para escolha do candidato ao Planalto?
Fonte: Blog do Magno Martins.
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