A voz impostada e imponente, conhecida de discursos e entrevistas lotadas de conteúdo e de histórias, era também empregada, em ocasiões mais reservadas, em cantorias às quais poucos tiveram acesso. "Existe um CD gravado de Joaquim cantando e quem tocava piano era a mulher de Augusto Lucena", recorda o deputado estadual Romário Dias. Faz referência ao ex-governador Joaquim Francisco, com quem tinha amizade há mais de 60 anos e também a dona Ieda Arcoverde de Lucena, com quem o ex-prefeito do Recife, Augusto Lucena, era casado. Romário ouviu Joaquim cantar Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Valdic Soriano. A memória musical é compartilhada pelo ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio Monteiro, que, nos idos de 2000, fez uma travessia para o PTB junto com Joaquim, com quem dividiu períodos da vida partidária. "Já vi ele cantar e já cantamos juntos", registra, à coluna, José Múcio, também conhecido pelo talento com a música. E, na esteira, recorda uma outra faceta de Joaquim: "Ele também tocava acordeon, era um homem interessante". José Múcio ainda define o ex-governador assim: "Era indiscutivelmente um homem limpo, não só de bem, mas do bem, incapaz de fazer mal a uma pessoa, duro nas decisões, sempre do lado correto, de palavra e obstinado pela política". De muitas palavras, todas encaixadas em raciocínios detalhistas.
Joaquim era, praticamente, uma enciclopédia, se sentava para dar entrevista com riqueza de informações da política, de episódios passados, muitas datas e ditados variados, um para cada situação que descrevia com bom humor, sem deixar de ser assertivo. "Joaquim era sempre muito preparado, estudioso e de muita lealdade, tinha todos os predicados que um homem pode ter. Eu acho que só Jesus teve o que Joaquim tinha", enaltece Romário Dias, que tinha por volta de 18 anos e morava na rua Gervásio Pires quando conheceu Joaquim. Ali, o ex-governador estava na faixa dos 15 anos e residia na Cruz Cabugá. Romário tem de cor os mínimos detalhes dessa relação que se estendeu à política. Ele foi secretário de Joaquim na Prefeitura do Recife, no Governo do Estado e foi chefe de gabinete no período em que o amigo foi ministro do Interior. "Joaquim se formou em Direito com 21 anos , na Faculdade de Diretório do Recife, muito novinho", sublinha Romário, que costumava anotar os ditados adotados por Joaquim para descrever casos com precisão. Entre eles, repisava que era adepto de "sentir a massaranduba do tempo". "É uma árvore que dá boa folha. A pessoa ficava embaixo, esperando as folhas caírem", traduz Romário, se referindo ao hábito de Joaquim de dar tempo ao tempo. Foi assim que ele chegou aos 73 anos, cultivando amigos como poucos, dos quais se despediu, ontem, após 45 dias internado no Hospital Português, em luta firme contra o câncer.
Pontapé inicial
Sobrinho de Joaquim Francisco, o secretário da Casa Civil, José Neto, recorda a característica do tio de estimular os jovens. Jóse Neto foi oficial de gabinete dele, assim como o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, e o atual ministro da Cidadania, João Roma. O ex-ministro Mendonça Filho foi secretário de Agricultura de Joaquim e realça a mesma característica.Livro > "Ele foi um grande incentivador e a pessoa que me deu a primeira oportunidade na vida pública, meu primeiro emprego foi com ele", relata José Neto à coluna, revelando que havia um projeto de um livro de memórias que André Régis e ele vinham estimulando, mas o imponderável acabou atropelando o plano.
Jovens > Mendonça Filho foi secretário de Agricultura de Joaquim quando tinha 24 anos. O convite original era para ele ser líder do Governo, mas a bancada resistiu devido a pouca idade.
Fonte :Folha de PE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário