quinta-feira, 1 de julho de 2021

Falta o batom na cueca


Escândalo pega como um visgo num Governo quando as desconfianças de envolvimento do chefe maior, no caso o presidente da República, vão se confirmando com os fatos. Este caso da cobrança de propina na compra de vacina, tendo como protagonista o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, despencou no colo de Bolsonaro, mas está faltando o batom da cueca.

Diferente da era PT, que começou com Lula e se estendeu a Dilma, Bolsonaro não esperou o resultado das investigações. Degolou Dias de imediato, no calor da emoção, sem fazer o menor esforço de ouvir a versão de quem estava sendo acusado. Confiou apenas no que saiu na mídia, ou seja, na palavra do denunciante, o vendedor Luiz Paulo Dominguetti, da empresa Davati Medical Supply.

Dias estava no Ministério desde a posse de Luiz Henrique Mandetta, mas, segundo o ex-ministro, sua ascensão ao cargo se deu por indicação do ex-deputado Alberto Lupion, do DEM do Paraná. Além de Lupion, quem está mais próximo ao diretor? Ele tinha poderes para assinar contratos bilionários e, certamente, os anteriores que administrou, assinou e liberou estão também eivados de suspeitas, ou não?

Só se descobriu o da propina da vacina, diga-se de passagem, porque o vendedor denunciou, mas passou por ele, gestor de todos os contratos e dono absoluto da logística do Ministério da Saúde, uma bolada de dinheiro para compra de todos os equipamentos médicos hospitalares usados no combate à pandemia. É aí que mora o perigo!

Porque, além do atual ministro Marcelo Queiroga, Dias teve outros chefes que deram aval para suas compras, entre eles o ex-ministro Eduardo Pazuello, que está no olho do furacão. Como Pazuello, que teve ontem seu sigilo bancário e fiscal quebrado pela CPI da Covid, é extremamente ligado a Bolsonaro, militar como ele, há um caminho para os fatos que podem respingar no presidente. Se isso ocorrer, aparece o batom na cueca.

Negociação oficial – Uma troca de e-mails obtida pela CPI da Covid no Senado mostra que o Governo negociou a compra de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca com a Davati Medical Supply “via” Luiz Paulo Dominguetti Pereira. A empresa com sede no Texas (EUA) nega que ele seja seu representante, mas o apontou como intermediário de uma oferta formal enviada ao Ministério da Saúde em 26 de fevereiro deste ano. Dominguetti Pereira relatou que Roberto Ferreira Dias teria pedido propina de US$ 1 por dose da vacina AstraZeneca. Suas declarações foram publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo. Dominguetti se apresentou como representante da Davati no Brasil, o que a empresa nega.

Os sete bandidos – O presidente Jair Bolsonaro participou, ontem, da inauguração de nova estação de radar de fiscalização em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. No evento, criticou duramente a condução da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado. “Não conseguem nos atingir. Não vai ser com mentiras ou com CPI, integrada por 7 bandidos, que vão nos tirar daqui. Temos uma missão pela frente, conduzir o destino de nossa nação e zelar pelo bem-estar e pelo progresso do nosso povo”, disse.

Novo suspeito – Responsável por levar suspeitas de corrupção na compra de vacinas ao presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou, ontem, recebido uma oferta de propina para agilizar a contratação do imunizante indiano Covaxin no Ministério da Saúde. O parlamentar, até então aliado do Palácio do Planalto, disse que a proposta partiu de Silvio Assis, um lobista conhecido em Brasília, próximo do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR). Segundo Miranda, ele recusou a oferta.

O substituto – O Ministério da Saúde designou o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes como substituto eventual do diretor do Departamento de Logística em Saúde, cargo que até, ontem, era ocupado por Roberto Ferreira Dias, exonerado após ser acusado de pedir propina para fechar um contrato para compra de vacina. Ridauto é assessor do mesmo departamento desde janeiro deste ano e assume a função no lugar de Marcelo Blanco da Costa, dispensado também acusado de participar das negociações por propina. Militar, Blanco da Costa foi nomeado assessor da área pelo então ministro Eduardo Pazuello ainda em maio do ano passado.

Lula no Recife – Em entrevista, ontem, ao Frente a Frente, o líder do PSB na Câmara, Danilo Cabral, informou que o ex-presidente Lula estará em Pernambuco agora em julho, mas não falou em data. Negou que o partido já tenha batido o martelo em apoio ao petista como pré-candidato ao Palácio do Planalto. “O que existe, hoje, são conversações para um grande movimento no sentido de derrotar Bolsonaro”, disse. Quanto ao roteiro de Lula no Estado, Danilo explicou que só será definido quando foi marcada a data, o que deve ocorrer ainda na primeira quinzena deste mês.

CURTAS

COTA PARLAMENTAR – A Assembleia Legislativa aprovou, ontem, por unanimidade, projeto de lei que dá autonomia aos deputados estaduais para reajustar os auxílios saúde e alimentação dos servidores do Legislativo. Além disso, o plano permite que sejam modificados os valores da verba indenizatória deles próprios, que vai passar a se chamar "cota parlamentar".

NO JEITINHO – Durante a sessão ordinária, os deputados deixaram claro que os benefícios eram destinados aos servidores da Alepe e não aos parlamentares. No entanto, o terceiro artigo do projeto institui a cota para o exercício da atividade parlamentar, destinada a custear gastos vinculados ao exercício das atividades dos deputados. E esta cota substitui a verba indenizatória do exercício parlamentar.

Perguntar não ofende: Bolsonaro agora entrou de vez no paredão?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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