O clima nessas eleições no Recife está extremamente radicalizado. Paradoxalmente, o que deveria ser motivo de comemoração — as candidaturas da direita não terem ido ao segundo turno — virou uma disputa fratricida no nosso campo. Nessas situações, o diálogo se torna difícil, quase impossível. Mas é justamente nesses momentos que se precisa fazer o bom debate e conversar sobre nossas posições de maneira franca. É assim que fortalecemos a democracia.
Nos últimos dias, tenho visto um número absurdo de comentários em minhas redes sociais, com um nível de ataques que não lembro existir nem no período mais crítico em que se tramava o golpe contra Dilma. São comentários que me dizem para ficar “calada”, que tentam desmerecer uma posição política pensada, construída coletivamente e que leva em consideração não só uma luta histórica, mas um esforço contemporâneo pela unidade e pela amplitude. Comentários eivados de machismo, misoginia, desinformação e falta de respeito por nossa trajetória. É o ônus, eu sei, de quem tem vida pública e defende suas posições sem tergiversações nem vacilos. Estou acostumada a encarar com firmeza esse tipo de comportamento, desde a minha primeira candidatura a prefeita de Olinda. E, embora me decepcione por recebê-los de outras mulheres e de pessoas que deveriam estar empenhadas na construção de costumes menos preconceituosos, eu compreendo como fruto desse momento.
É nesse ambiente, marcado ainda por um jeito ultrapassado de fazer política e incensado por uma campanha de ódio e intolerância, que vimos cartazes apócrifos contra a candidatura de Marília Arraes. Cartazes esses que foram motivo de denúncia do próprio João Campos, para que se apure e puna quem os produziu. Do mesmo modo, foram distribuídas peças atribuindo à ministra Ana Arraes, avó de João Campos, ataques nunca feitos ao neto e sua candidatura. Essas e outras ações condenáveis desqualificam a disputa, acirram os ânimos e fragilizam os esforços para, na política, construir o ambiente necessário para derrotar o bolsonarismo, maior desafio que está posto ao campo progressista.
Não aceito nenhuma dessas ações como naturais e luto contra isso em qualquer espaço em que estiver!
Entre todas as agressões, as que mais me causam indignação são aquelas contra a vida privada de pessoas públicas, as que visam atingir seus familiares. Desde o primeiro turno, assistimos a uma deplorável campanha de ataques contra Renata Campos, que se intensificou nessa reta final. É notório o esforço de construção de uma imagem de alguém que concentra decisões, que age nos bastidores do poder, e que em nada se assemelha à verdadeira Renata. Economista e concursada do TCE, companheira leal de Eduardo, mãe zelosa de João, Eduarda, Pedro, José e Miguel, e militante política desde muito jovem, nas campanhas de Germano Coelho e de seu tio, Fernando Filho, Renata é uma mulher firme, inteligente e que tem opinião própria. É lamentável que sua figura e suas qualidades como companheira e mãe sejam deturpadas em fake news e criação de mitos baseados nos mais detestáveis estigmas do machismo e preconceito impregnado no imaginário coletivo.
Escrevo aqui como um desagravo a uma pessoa querida, que tem minha admiração e respeito. Mas, principalmente, como alguém que tem uma vida dedicada a dizer que lugar da mulher é na política e onde ela quiser, e a construir isso na prática. Trabalhamos nesse sentido todos os dias. Assim como também combatemos a campanha para criminalizar a política, que ganha força com esses ataques vazios.
O programa de governo da Frente Popular foi construído com nossa participação e com olhar voltado para as mulheres e para quem mais precisa de políticas públicas avançadas e inclusivas. Nosso apoio a João Campos é baseado na certeza de que essa candidatura é a melhor para que sigamos avançando na construção de uma cidade cada vez mais desenvolvida, inclusiva, que ofereça oportunidades para todas as pessoas e uma qualidade de vida melhor para nossa gente. É essa candidatura que terá mais condições políticas para, no futuro, construir frentes mais amplas contra essa agenda antipovo e antinacional que impera no Brasil, uma vez que o núcleo orgânico do reacionarismo pernambucano se articulou em torno da candidatura de Marília.
A luta contra o machismo, a misoginia e a violência física, simbólica e política contra as mulheres não pode ser apenas um discurso. Precisa ser um compromisso, assumido na prática e sob qualquer circunstância. Tenho certeza que essa é a luta que travo todos os dias, nem sempre estampada nas redes sociais. Que esse processo eleitoral possa ser um exercício para todos nós e que, diante de um exame minucioso de consciência, possamos sair dele com capacidade para distinguir críticas de ataques pessoais. Que tenhamos condições de exercitar e dar sentido a duas palavras tão bonitas, tão usadas e tão pouco praticadas: sororidade e empatia.
Luciana Santos, é vice-governadora
Presidente Nacional do PC do B
Fonte: Blog do Silvinho.
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