Na entrevista que concedeu a este blog, quinta-feira, via live Instagram, o ex-ministro Ciro Gomes, que já está em campanha antecipada ao Planalto pelo PDT, fez uma gravíssima acusação ao presidente da República. Afirmou, categoricamente, que Bolsonaro é o mentor das chamadas milícias. “Elegeram um despreparado, boçal, de família bandida, ligada com as milícias e da mamatinha de roubar dinheiro de gabinete”, desabafou, adiantando que a família nem Bolsonaro abrem processo contra ele, porque sabem que existem provas em seu poder.
“Eu tenho as provas”, bradou Ciro. Pelo menos até o fechamento desta coluna, o Palácio não havia se pronunciado ontem. E essa postura é mais grave ainda, porque tem um velho ditado que diz “quem cala, consente”. No mínimo, se entendesse a declaração de Ciro leviana, o presidente acionaria seus advogados na justiça para uma interpelação judicial, exigindo que o ex-ministro apresentasse as provas em tempo recorde.
Ciro foi mais além e disse que Fabrício Queiroz, o homem-bomba do caso das rachadinhas no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro, hoje senador, na Assembleia do Rio, “é Bolsonaro”, insinuando que a operação de distribuição do dinheiro proveniente da verba de pessoal do gabinete do filho do presidente era comandada por ele próprio, o chefe da Nação, na época deputado federal pelo Estado do Rio.
“O Queiroz não é do Flávio, é do Jair Messias Bolsonaro, esse cara que está na Presidência”, desabafou. Fabrício Queiroz, que está preso, foi policial militar e é amigo do presidente Bolsonaro desde 1984. Reformado na PM, trabalhou como motorista e assessor de Flávio, então deputado estadual pelo Rio. Ele passou a ser investigado em 2018 após um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) indicar "movimentação financeira atípica" em sua conta bancária, no valor de R$ 1,2 milhão, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
Queiroz foi demitido por Flávio pouco antes de o escândalo vir à tona. O último salário de Queiroz na Alerj foi de R$ 8.517. Ele é acusado de ter recebido transferências em sua conta de sete servidores que passaram pelo gabinete de Flávio. As movimentações atípicas levaram à abertura de uma investigação pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
O líder – Pela acusação de Ciro, não seria Flávio Bolsonaro o líder do esquema das rachadinhas, mas o próprio presidente Bolsonaro, que teria coordenado o seu funcionamento por mais de dez anos. O Ministério Público do Rio de Janeiro afirma que, entretanto, que Flávio teria lavado dinheiro oriundo das “rachadinhas” com transações imobiliárias e com a loja de chocolates da qual é sócio em um shopping na Barra da Tijuca, no Rio. Amigo de longa data do agora presidente, Queiroz atuou no gabinete de Flávio Bolsonaro de abril de 2007 a outubro de 2018. Ele é apontado pelos investigadores como operador financeiro dos ilícitos investigados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Sua filha Nathalia Queiroz foi funcionária do gabinete de Jair Bolsonaro nos últimos dois anos de mandato como deputado federal.
Tom moderado – Enquanto tem adotado a moderação para escapar das polêmicas criadas pelas próprias declarações, o presidente Jair Bolsonaro faz cálculos políticos diante da encruzilhada de investigações que o cercam. Em conversas com ministros mais próximos no Palácio da Alvorada, o chefe do Executivo diz que a crise está controlada, apesar dos pedidos de impeachment e inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do caso de Fabrício Queiroz, que apura o esquema de “rachadinha” no gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) de seu filho e hoje senador Flávio Bolsonaro (Podemos-RJ).
Fora da investigação – No caso Queiroz, a análise no Planalto é que se, porventura, o ex-assessor envolver o presidente no suposto esquema de “rachadinha”, o inquérito deverá ser paralisado. Pela legislação, o chefe do Executivo não pode ser investigado por fatos anteriores ao mandato. Na última quinta-feira, o jornal Estado de São Paulo revelou que Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz, tinha um caderno com números de celulares atribuídos ao presidente Jair Bolsonaro, ao próprio Flávio, à primeira-dama Michelle e a diversas pessoas ligadas à família. Segundo o Ministério Público o Rio de Janeiro, os contatos deveriam ser acionados quando o ex-assessor fosse detido.
Chiadeira – Uma portaria do Ministério da Saúde que libera R$ 13,8 bilhões para Estados e municípios deixou irritados deputados do Centrão que fizeram pedidos ao governo. A liberação da verba, toda de uma vez, tem aberto disputas sobre a “paternidade” do dinheiro. Os recursos para as prefeituras somam R$ 11,3 bilhões. Estão juntas demandas dos municípios, dos deputados e iniciativas do próprio Ministério, sem discriminação. O governo explicou a alguns congressistas, informalmente, quais demandas feitas estavam sendo atendidas. Outros não tiveram nem sequer essa informação. O procedimento normal, nesses casos, é que o político autor da indicação seja informado da liberação do dinheiro.
CURTAS
PEGARAM SERRA – Pilhado numa operação, ontem, da Polícia Federal em São Paulo, o senador José Serra (PSDB) teria se aproveitado de seu cargo e influência política para receber pagamentos indevidos da empreiteira Odebrecht. Em troca, concederia benefícios relacionados às obras do Rodoanel Sul. De acordo com o MPF (Ministério Público Federal), a Odebrecht pagou ao tucano cerca de R$ 4,5 milhões entre 2006 e 2007, supostamente para usar nas suas campanhas ao governo do Estado de São Paulo, e cerca de R$ 23 milhões (atualizados em R$ 191,5 milhões), entre 2009 e 2010, para a liberação de créditos com a Dersa, estatal paulista extinta em 2019. Os pagamentos teriam sido feitos por meio de uma rede de empresas no exterior, para que os nomes das pessoas beneficiadas não fossem detectados pelos órgãos de controle.
ÍNDIOS AFETADOS – O número de casos confirmados de Covid-19 entre indígenas divulgado pela Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) superou a contagem do governo federal. Segundo a entidade, foram 10.341 infecções até 5ª feira (2.jul.2020), ante as 7.198 contabilizadas pela Sesai (Secretaria de Saúde Indígena), do Ministério da Saúde. A diferença entre as duas contagens ocorre, segundo a Apib, pelo fato de a Sesai não registrar e não prestar atendimento aos indígenas que vivem em territórios tradicionais em áreas urbanas e rurais. A entidade indígena afirma que o número de povos afetados pela doença é de 121.
PESQUISA OLINDA – Depois de Jaboatão, primeira pesquisa da parceria Potencial/BlogdoMagno, postada da quarta-feira de meia noite, apontando o prefeito Anderson Ferreira (PL) numa posição bastante confortável para uma eleição em primeiro turno, na próxima quarta-feira será a vez dos leitores deste blog e do jornal O Poder tomarem conhecimento do quadro da sucessão do prefeito de Olinda, Professor Lupércio. Da mesma forma que Jaboatão, o levantamento trará também a avaliação das gestões do prefeito, do governador e do Governo Bolsonaro.
Perguntar não ofende: Quanto tempo o novo ministro da Educação vai se segurar no cargo?
Fonte: Blog do Magno Martins.
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