sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Marília volta candidata de São Paulo

O PT de Pernambuco – leia-se o manda-chuva Humberto Costa – não tem mais razões que embasem um novo veto ao plano majoritário e viável em torno do potencial eleitoral de Marília Arraes, desta feita na disputa à Prefeitura do Recife. Em 2018, ela teria amplas chances de chegar ao segundo turno e ganhar a eleição para o Governo do Estado, mas o projeto nacional, pelo qual a candidatura de Fernando Haddad ao Planalto precisaria do respaldo do PSB, atrapalhou.
Rifada, só restou a então favorita ao Palácio das Princesas, conforme atestavam todas as pesquisas de intenção de voto, buscar um mandato federal, arrebatado nas urnas com o aval de mais de 193 mil pernambucanos, a segunda mais votada entre os 25 deputados federais eleitos, abaixo apenas de João Campos. Respaldada, Marília buscou se aproximar em Brasília dos cardeais e mandarins do PT. Deu certo.
Ganhou a confiança da presidente Gleisi Hoffman (PR), do líder na Câmara, José Guimarães (CE), e, principalmente, do ex-presidente Lula, personagens com os quais estará frente a frente na próxima terça-feira, em São Paulo, ao lado do senador Humberto Costa, o presidente estadual, Cirilo Mota, e o presidente do diretório municipal, Doriel Barros. Do encontro, não pode sair outra decisão a não ser a de candidatura própria no Recife.
Na última sexta-feira, reunido em São Paulo, o diretório nacional do PT, sob a coordenação do próprio Lula, anunciou candidatura própria em dez capitais, entre elas a própria São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza e Manaus, deixando Recife de fora, o que derivou para interpretações de que Marília estava, novamente, fritada.
Mas não vai acontecer isso. Precisando recuperar espaços de poder arrastados pelas urnas nas últimas eleições, o que respaldaria a direção nacional a impor um novo veto à candidatura de Marília Arraes? Nada. A história não se repete em política. Vetar Marília lá atrás, vereadora do Recife, foi fácil. Deputada federal, são outros quinhentos.
Além disso, Humberto já ganhou o que queria: a renovação do seu mandato, que ameaçava virar letra morta não fosse o casamento com o PSB e o poder das duas máquinas, a do Estado e da Prefeitura do Recife. Humberto não tem mais resistência dialética e voz ativa no diretório nacional para barrar, por conveniências paroquiais, um projeto real de poder para o PT numa das capitais mais importantes do Nordeste.
Fora da disputa – Interlocutores de partidos de oposição que estiveram com o deputado Raul Henry, nos últimos dias, se convenceram de que não será candidato a prefeito num voo solo pelo MDB, tendo arquivado o projeto de se contrapor à aliança que o seu partido mantém no Estado e no Recife com o PSB. Henry não deseja romper o ciclo histórico com os socialistas e tem dito que não tem mais idade para entrar em aventura.
Vice de João – Não se surpreenda, caro leitor, se Raul Henry virar o vice na chapa do pré-candidato do PSB a prefeito do Recife, João Campos. Ele daria um ar de mais maturidade à chapa socialista, pela pouca idade do herdeiro político do ex-governador Eduardo Campos, com apenas 26 anos. Outro fator que tem levado o PSB a se convencer da necessidade de levar Henry a vice de João passa pelo seu currículo – já foi vice de Roberto Magalhães e vice-governador, também, tendo, além disso, perfil de um político urbano, com cara de Recife.
Viés doméstico – O deputado Alberto Feitosa, que tem atuado com viés de oposição, surge na mesa de negociação entre os partidos que combatem o PSB à sucessão do prefeito Geraldo Júlio. É visto como uma boa alternativa, mas pode esbarrar na má vontade do seu partido, o Solidariedade, cujo presidente, Augusto Coutinho, tem dito que a prioridade é reeleger o filho Rodrigo, vereador na capital. O SD é um partido doméstico.
Não quer – Sondado para voltar à Secretaria de Turismo, o deputado Felipe Carreras (PSB) não aceitou e por isso mesmo o governador não encontrou ainda a saída para o imbróglio da gestão na pasta entregue ao deputado licenciado Rodrigo Novaes, escolhido como cota do PSD, mas longe de contar com o respaldo do presidente estadual André de Paula, líder do partido na Câmara Federal.
CURTAS
MUDANÇA NA ILHA – Ao desembarcar, ontem, em Fernando de Noronha, o governador Paulo Câmara se deparou com um protesto de taxistas contra o decreto que proíbe, a partir de 2022, a entrada de carros a diesel na ilha. Câmara inaugurou a área requalificada do porto e entregou o novo centro de imagens do hospital São Lucas. Pode ter sido a última aparição pública ao lado do administrador Guilherme Rocha, ventilado para assumir outro cargo na gestão estadual.
O CONSULTOR – Está envolto num grande mistério o papel que o ex-ministro de Defesa, Raul Jungmann, cumpre na condição de consultor navegando entre os mares do Governo Federal e também estadual. Na passagem do ministro Osmar Terra, ontem pelo Recife, se apresentou como principal conselheiro e assessor. E essa tem sido uma rotina com todos os ministros de Bolsonaro que pisam o solo pernambucano. Até a Dias Toffoli, presidente do STF, o ex-ministro bateu continência, há 15 dias.
O CARONEIRO – Dias após exibir a ficha de filiação ao MDB, o ex-prefeito itinerante da Região Metropolitana, Yves Ribeiro, pega carona na popularidade da deputada estadual bombada de votos Gleide Ângelo. Acertou com ela um evento em Paulista, município que tentará governar pela segunda vez, no combate ao prefeito socialista Júnior Matuto, o até então queridinho do Palácio das Princesas.
Perguntar não ofende: Com Raul Henry fora do páreo, qual candidato no Recife terá o apoio da banda do MDB do senador Fernando Bezerra?
Fonte: Blog do Magno Martins.

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