O crescimento do consumo de agrotóxicos cada vez mais fortes e os consequentes riscos de exposição ao homem e ao meio ambiente chama a atenção para alternativas de controle biológico de pragas nas lavouras. Isso é defendido pela Agroecologia, sobretudo em pequenas produções. Mas até mesmo para grandes monoculturas existem alternativas aos agrotóxicos bem-sucedidas. A empresa Bug Agentes Biológicos, de São Paulo, aperfeiçoou uma técnica antiga para uso em escala industrial: vespas no combate às pragas que atingem as lavouras de cana-de-açúcar, soja e de algumas frutas.
Ovos da Trichogramma, a vespa, são fecundados no meio da lavoura. Quando os bichos nascem, parasitam os ovos de outros insetos que são verdadeiras pragas na lavoura. O método já é utilizado com sucesso em lavouras de soja e cana-de-açúcar, de longe as culturas que mais demandam agrotóxicos. Há outra vantagem no controle biológico: a economia direta chega a 40%, se comparado com os custos dos agrotóxicos. Essa forma de controle biológico já é experimentada no município de Ascar, Estado do Rio Grande do Sul. A Emater distribui para os agricultores familiares combaterem lagartas na produção de milho.
Escala comercial
O método é antigo - data dos anos 1980, mas foi aperfeiçoado justamente para poder atender a grandes plantações. "Conseguimos reproduzir em escala comercial. Hoje podemos combater as lagartas até mesmo numa área de 500 hectares de cana", afirma Diogo Carvalho, sócio-proprietário da Bug.
As vespas são vendidas em ovos fecundados em uma cartela. Os envelopes são abertos e dispostos de forma simétrica na plantação. Uma cartela (preços variam de R$ 12,00 a R$ 20,00) pode ter de 50 mil a 100 mil unidades de Trichogramma. O empreendimento começou como incubadora tecnológica na Universidade de São Paulo (USP), da qual os sócios Diogo Carvalho e Marcelo Poletti são egressos. O sucesso científico gerou outro: a Bug Agentes Biológicos foi eleita a empresa mais inovadora do Brasil, segundo o ranking da revista norte-americana de economia Fast Company. Isso colocou a Bug à frente de gigantes como Petrobras e OGX.
Outras alternativas biológicas são a vespa Cotesia flavipes (combate a larva da broca da cana-de-açúcar) e o Metharizium anisoplea (controla naturalmente a cigarrinha-da-raiz, que também ameaça o canavial). O controle se torna sustentável porque não deixa resíduos tóxicos.
Um dos questionamentos dos interessados em adquirir esse tipo de controle biológico é quanto aos riscos de uma reprodução exagerada de vespas afetar, de modo contrário, as plantações. "Elas não têm alcance maior que 50 metros, e mesmo assim são predadoras obrigatórias das larvas a que são destinadas, então praticamente não há risco de ter um impacto negativo", explica Diogo Carvalho.
A empresa projeta para ainda neste ano realizar a distribuição das cartelas com ovos de vespas fecundados por meio da pulverização aérea.
Agroecologia
Outras alternativas de controle biológico de pragas são utilizadas em pequenos plantios da agricultura familiar. São métodos de cultivo orgânico, que não utilizam agrotóxicos nem hormônios do crescimento. Utilizam adubos naturais (esterco) e também ervas daninhas para combater os seus predadores naturais. O cultivo orgânico tem sido realizado, com sucesso, em vários Estados brasileiros. Dessa forma que, munidos de um selo emitido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), vários cultivos já são fornecidos até mesmo nas grandes redes de supermercado. Mas é comum a feira livre agroecológica.
O Centro de Recife está se tornando um dos principais polos de feira agroecológica do Nordeste. Boa parte da produção vem do município de São Lourenço da Mata. São 55 famílias em 413 hectares de terras.
Num espaço de 8 hectares, dona Maria Lenir planta alface, coentro, cebola, batata, beterraba, milho, feijão e macaxeira. "A gente passa a semana cuidando da plantação, trabalhando a terra como quem cuida do filho. Colho e no sábado levo para a feira em Recife", conta. Com 61 anos e sem aposentadoria ou participação de programas assistenciais, a venda de orgânicos é a única renda de sua família.
Os próprios agricultores começaram com práticas de monoculturas e até mesmo usando agrotóxicos. A situação mudou com a assistência técnica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os trabalhadores rurais implementaram a Unidade de Experimentação Agroecológica, chamada por eles de "Roçado do Estudo".
Fonte Diário do Nordeste (CE).
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