terça-feira, 8 de junho de 2021

O ator e o mandante

Quem deu a ordem para atirar nos manifestantes que foram às ruas do Recife em protesto contra o Governo Bolsonaro, na semana passada, foi o secretário de Defesa, Antônio Pádua, demitido por esta razão e não porque pediu para sair. O comandante da PM, Vanildo Maranhão, também afastado, só deu o grito de ordem ao Batalhão de Choque em obediência ao secretário.

Já Pádua, por sua vez, não tinha autonomia para reprimir nenhum tipo de manifestação se não tivesse recebido ordem superior. Decisões dessa magnitude seguem, portanto, uma rígida hierarquia. No topo desse sistema, no velho e surrado linguajar do manda quem pode, obedece quem tem juízo, está o governador Paulo Câmara. Mas ele não vai dar o braço a torcer nunca. Em ano pré-eleitoral, assumir uma mancada dessa seria suicídio político.

Deste triste, lamentável e deprimente episódio se chega, igualmente, a conclusão de que a corda só arrebenta no lado dos mais fracos. O comandante da PM, o mais baixo na hierarquia, coitado, foi o verdadeiro boi de piranha. Pagou o preço pelo cumprimento da missão. Soldado no quartel, diz o ditado popular, está pronto para toda e qualquer missão que surgir, mesmo sendo contrário aos princípios.

Ao demitir o comandante da PM e em seguida o secretário de Defesa, o governador inverteu as ordens. O primeiro a cair deveria ter sido Pádua. De uma sala especial em seu gabinete, ele monitorou toda manifestação, informando ao governador passo a passo de tudo. E quando recebeu a ordem do chefe mandou o comandante jogar a tropa em cima dos manifestantes.

O final foi trágico e "projetou" Pernambuco no Fantástico, domingo passado, programa de maior audiência da Rede Globo. Tragicidade maior para os dois senhores que perderam uma das vistas atingidas por balas de borracha, que nada tinham a ver com o ato. Infelizmente, tiveram do Governo menos atenção e cuidados do que a vereadora petista, que se jogou no chão depois de levar spray de pimenta nos olhos.

Até as paredes – A versão acima, levantada por este blogueiro com as mais variadas fontes militares, é do conhecimento de toda a tropa, ativa e inativa, da aguerrida Polícia Militar de Pernambuco. Está presente também na bancada governista na Assembleia Legislativa e chegou fortemente aos deputados da própria coligação oficial na bancada federal. Como se diz no Palácio, as paredes têm vozes e falam tudo claramente.

Casuísmo a caminho – incomodados com a proibição da formação de coligações partidárias, experiência que os vereadores serviram de cobaias nas eleições passadas, os deputados federais estão decididos a promover um tremendo casuísmo: aprovar a federação dos partidos. Trata-se de um projeto que nasceu no Senado, ainda é objeto de uma grande polêmica, mas se passar na Câmara pode abrir uma janela para a volta das coligações.

Retrocesso eleitoral – À propósito, um especialista em legislação eleitoral fez o seguinte comentário sobre o projeto casuístico que começou no Senado por iniciativa do PCdoB: "A única diferença para as coligações na proposta do PCdoB é que na federação os partidos são obrigados a permanecerem unidos durante a legislatura. O resto é coligação pura e simples. Um retrocesso inconcebível".

Investimento espanhol – O ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, sobrevoo o litoral de Alagoas e Pernambuco, ontem, levando a bordo uma delegação de empresários espanhóis de olho em hotelaria e energia solar no Nordeste. Machado procurou o grupo depois de ser informado da intenção dos espanhóis de investir em território cubano e não no Brasil. Depois de uma manhã de trabalho, o ministro ofereceu um almoço para a comitiva num restaurante da zona sul. Hoje, Machado vai levá-los para o Norte, especialmente o Pará, Estado que pretendem também investir em equipamentos turísticos.

Viva Joaquim! – Liguei, ontem, para o ex-governador Joaquim Francisco, a quem servi como secretário de Imprensa. Recentemente, ele se submeteu a duas cirurgias para se livrar de um câncer. Encontrei um Joaquim animado, alegre e divertido, como sempre. Louco para voltar às atividades de advogado no seu escritório e a caminhar no parque da Jaqueira. Homem público decente e probo, Joaquim Francisco é raridade na fauna política. Nunca seu nome esteve envolvido em qualquer tipo de desvio ético. E olha que ocupou muitos cargos – prefeito do Recife, governador, deputado federal e ministro de Estado! Honra Pernambuco.

CURTAS

MINHA PROFESSORA – Soube, ontem, antes de embarcar para Brasília, que a jornalista Valdelusa D’Arce, sofreu um derrame cerebral hemorrágico. Foi minha professora de Jornalismo na Unicap e colega de redação no Diário de Pernambuco. Estamos em oração por ela. Grande figura!

CIDADANIA – A Câmara de São José do Egito, berço da poesia pajeuzeira, aprovou, ontem, por unanimidade, meu título de Cidadão. Estou feliz porque São José é parte da minha vida e cenário do start no jornalismo. Ali, defendi muitas bandeiras, desde os anos 80, com destaque para os problemas decorrentes das secas periódicas. Também promovi sua cultura e o talento dos seus grandes poetas, desde Louro a Cancão. Este, aliás, personagem de uma bela reportagem de capa no caderno Viver, do DP. Em nome do vereador Albérico Tiago (PP), autor da proposição, agradeço a todos os 13 parlamentares.

Perguntar não ofende: Quando a CPI da Covid vai colocar em pauta a convocação de Geraldo Covidão?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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