quarta-feira, 5 de maio de 2021

A montanha pariu um rato

 


O depoimento do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ontem, abrindo os trabalhos da CPI da Pandemia, não acrescentou absolutamente nada de novo como contribuição à investigação. O que ele disse, o Brasil está careca de saber, sobretudo o Congresso. Entre os principais pontos da oitiva, disse ter ocorrido um "aconselhamento paralelo" ao presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia quando ele (Mandetta) esteve no cargo.

Falou na adoção da cloroquina para tratamento do novo coronavírus "ao arrepio" do Ministério da Saúde e questionou a participação do vereador Carlos Bolsonaro (RJ), filho do presidente, em reuniões ministeriais, o que, segundo ele, gera dúvidas sobre a influência do herdeiro nas ações do Governo.

Destacou que fez um alerta sobre o Brasil poder chegar a 180 mil mortes até o final de 2020 – número que acabou sendo superado. Em síntese, sua linha de raciocínio foi no sentido de mostrar que o presidente divergiu das orientações científicas, no isolamento e na cloroquina. Durante depoimento, o ex-ministro disse que viu uma minuta de documento da Presidência da República para que a cloroquina tivesse na bula a indicação para Covid-19.

Segundo Mandetta, o próprio diretor-geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) discordou dessa medida. Falar é fácil sem provas. Qual a prova que o ex-ministro apresentou aos integrantes da CPI de tudo que falou, inclusive sobre a mexida na bula da cloroquina? Nada, absolutamente nada. Divagou. Seu depoimento, esperado como uma bomba na CPI, em nada abrirá um clarão para se chegar à investigação que a comissão se propõe, que Bolsonaro é um genocida.

Tanta coisa, tanto perigo para ser apenas uma montanha que pariu um rato, expressão utilizada para designar alguma coisa que após muita expectativa, ameaça, ocorre apenas algo insignificante. Aplica-se perfeitamente à fala do ex-ministro, um “gênio” apenas no foco das câmaras da TV-Globo, que o trata como uma “celebridade”.

Roteiro em livro – O frágil depoimento de Mandetta, sem novidades, teve como roteiro um livro, do jornalista Wálter Nunes, sobre a pandemia, fruto de revelações do ex-ministro. Foi traçado também com base em relatos que ele manteve escrevendo diariamente sobre a situação do trabalho no Ministério da Saúde quando atuava no combate ao novo coronavírus e a difícil relação com o presidente Jair Bolsonaro, em 2020. Quem já leu o livro sabe, por exemplo, que Mandetta contou sobre episódios e reuniões em que Bolsonaro ignorou a gravidade da situação da covid-19 e fez questão de ignorar a orientação sobre isolamento social que estava sendo seguida em todo o mundo.

A carta – No seu depoimento, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta trouxe apenas uma novidade. Informou ter enviado uma carta para o presidente Jair Bolsonaro com algumas recomendações que poderiam ajudar a conter o avanço da pandemia no Brasil. Mandetta disse que alertou Bolsonaro "sistematicamente", aconselhando que a presidência revisse seu posicionamento para acompanhar as orientações do Ministério da Saúde. A carta foi enviada em 28 de março de 2020, dias após a pandemia ser decretada.

Governadores – Mandetta citou, também, episódio de diálogo com o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), para exemplificar harmonia na relação entre poderes na pandemia. Ele disse ter ligado e conversado com Camilo sobre índices da pandemia na Capital para ajudar a embasar decisão posterior sobre flexibilizar o lockdown. Com isso, o ex-ministro quis mostrar que seu diálogo com os governadores era bom, em contraponto ao presidente, que bateu de frente com vários chefes de Estado, principalmente João Dória, de São Paulo.

Pau em João Paulo – Presidente da Associação dos Fornecedores de Pernambuco, Alexandre Andrade Lima bateu sem piedade, ontem, no deputado João Paulo (PCdoB), que carimbou o agronegócio como um lixo e de provocar fome e miséria. “Não podemos e nem aceitaremos ser acusados de setor tóxico que contribui para a fome e destruição ambiental. A entidade, que representa 7,1 mil agricultores deste ramo, sendo um dos principais segmentos do agro nacional, refuta a fala do deputado em todos os aspectos apontados e o orienta a conhecer melhor a realidade, iniciando pelo seu Estado, formado por 97% de agricultores familiares”, desabafou.

Bronca em Noronha – O deputado Waldemar Borges (PSB), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa, protocolou, ontem, uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) solicitando uma investigação sobre os custos da obra de manutenção da BR-363, em Fernando de Noronha. O serviço é de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Iniciada em 2017, a obra está sendo feita na rodovia da ilha, que tem 7,5 quilômetros de extensão. A manutenção, inicialmente orçada em R$ 9,9 milhões, teve prorrogação de prazo e valor reajustado para R$ 24,7 milhões.

CURTAS

MAL-ASSOMBRADAS – A ex-prefeita de Arcoverde, Madalena Brito (PSB), levou mais um tombo na batalha quase que inglória para reverter a decisão do Tribunal de Contas do Estado, que reprovou suas contas referentes ao exercício de 2016. Relator do processo, o conselheiro Carlos Porto considerou grave infração um déficit da ordem de R$ 25 milhões nas contas mal-assombradas da ex-gestora socialista. 

CAIU FORA – O jornalista Diogo Mainardi anunciou em nota pessoal postada no jornal on-line ‘O Antagonista’, do qual é sócio fundador e um dos editores, seu pedido de demissão do ‘Manhattan Connection’, programa pela TV-Cultura ancorado por Lucas Mendes. “Desde a quarta-feira da semana passada, quando xinguei o lulista Kakay, a TV Cultura estava pressionando os produtores do Manhattan Connection, a fim de que tomassem alguma medida contra mim”, escreveu.

Perguntar não ofende: Por que o ex-secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, quer barrar a chegada da documentação do escândalo dos porcos à CPI da pandemia?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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