segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Vacina com viés eleitoreiro

 

A ciência venceu morte e o vírus do fim do mundo está sendo guerreado e sepultado, mas depois de um rastro de horror: dois milhões de almas ceifadas, das quais 207 mil no Brasil. Europa e Estados Unidos saíram na frente sem marketing, sem contendas políticas, diferente do Brasil. Ontem, enquanto uma enfermeira negra, de 54 anos, entrava para a história, a primeira vacinada no Brasil, em São Paulo, por obra do governador João Doria (PSDB), em Brasília, no mesmo horário, o Governo Bolsonaro, por meio do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, acusava o golpe, classificando o ato paulista de puro marketing.

"O Ministério da Saúde tem em mãos, neste instante, as vacinas tanto do Butantã quanto da AstraZeneca. Nós poderíamos, num ato simbólico ou numa jogada de marketing, iniciar a primeira dose em uma pessoa. Mas em respeito a todos os governadores, prefeitos e todos os brasileiros, o Ministério da Saúde não fará isso. Não faremos uma jogada de marketing", atacou o ministro, numa entrevista coletiva para roubar a cena do que estava ocorrendo em São Paulo.

"É o triunfo da vida contra os negacionistas, contra aqueles que preferem o cheiro da morte, ao invés do valor e da alegria da vida", rebateu, por sua vez, o governado de São Paulo, João Doria, ao lado da enfermeira Mônica Calazans, do Hospital Emílio Ribas, a primeira pessoa no Brasil a receber uma dose da Coronavac. Depois dela, vários outros profissionais do Hospital das Clinicas, onde foi realizada a coletiva, também foram vacinados.

Triste uma vacina ser obra de manipulação política por puro oportunismo do Governo paulista. Doria é candidatíssimo à Presidência da República em 2022. Fazendo um Governo medíocre e opaco, tanto que chegou a ser escondido da campanha do prefeito reeleito Bruno Covas, Doria tenta, agora, enganar a humanidade brasileira com a vacina, o político que chegou primeiro com a tábua da salvação, passando por cima do Governo Federal.

Pazuello fez o pronunciamento após autorização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do uso emergencial de duas vacinas contra a covid-19 no Brasil, a coronavac, chinesa, produzida em parceria com o Instituto Butantan, e a inglesa, da Universidade de Oxford, na Inglaterra. No caso da Coronavac, os técnicos da Anvisa confirmaram, a partir de cálculos e análises próprias, os principais dados de eficácia e segurança apresentados pelo Butantã, mas detalharam incertezas que ainda permanecem sobre o produto.

Os técnicos da Anvisa confirmaram a eficácia de 50,4% da Coronavac, mas ressaltaram que não foi possível calcular a eficácia da vacina por faixa etária, principalmente entre idosos. Quanto à vacina de Oxford, também foi confirmada a segurança do imunizante e a eficácia média de 70,32%. O dado considera diferentes números, dosagens e intervalos entre doses. No Brasil, com duas doses completas, a eficácia ficou em 62%.

O ALVO – Em seu discurso, Doria fez críticas diretas ao presidente Jair Bolsonaro, seu adversário político, com quem vem travando discordâncias desde o início da pandemia, citando falas dele e do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. "'E daí?', disse um brasileiro. 'Pressa para quê', disse outro brasileiro. 'Toma cloroquina que passa', disse um líder do País. A vacina é uma lição para vocês, autoritários que desprezam a vida, que não têm compaixão, que desprezam a atenção, a dedicação e a necessidade de proteger a brasileiros. Vocês não fizeram isso", disse.

E O RECADO – De olho no Palácio do Planalto, governador paulista também criticou o chamado "tratamento precoce" defendido por Bolsonaro e por Pazuello, que não tem nenhuma eficácia, de acordo com a ciência, contra a covid-19. "Espero que o comportamento do Ministério da Saúde seja pela vida e que parem de recomendar e distribuir a cloroquina", disse. “Hoje é um dia de esperança, de renascimento, de buscar mais forças para prosseguimos. A chegada da vacina não nos livra do uso da máscara, da necessidade do isolamento social e da necessidade de não aglomerar”, acrescentou.

OXIGÊNIO - Duas cargas de oxigênio encaminhadas pelo Governo Federal a Manaus, no mês de maio de 2020 e neste final de semana, daria para abastecer o Amazonas por apenas um dia. A cidade viveu colapso dos hospitais na semana passada, por falta do insumo, o que fez pacientes morrerem asfixiados e doentes serem transferidos para outros Estados. Ontem, o Governo anunciou que balsas atracaram no porto de Manaus, durante a madrugada, com 70 mil metros cúbicos de oxigênio comprados pelo Governo do Amazonas. Na véspera, o presidente Jair Bolsonaro propagandeou nas redes sociais que no dia 3 de maio mandou um carregamento de 200 cilindros de oxigênio ao Estado, algo em torno de 2 mil metros cúbicos do produto.

DESABAFO DE MOURÃO – O vice-presidente Hamilton Mourão não acha que o presidente Jair Bolsonaro terá o mesmo destino de Donald Trump, que, a poucos dias de deixar a Casa Branca, viu o segundo pedido de impeachment ser aprovado pela Câmara. “Não vejo hoje que haja condição de prosperar qualquer pedido de impeachment contra o presidente Bolsonaro”, disse ele ao Estadão, para completar: "Aqui no Brasil, qualquer coisa é impeachment, né? Deixa o cara governar, pô!"

CURTAS

BONECO – Um ato pró-vacina foi organizado pela Frente Povo Sem Medo em frente à Anvisa na manhã de ontem antes da sessão na qual foi a anunciada a liberação emergencial das vacinas CoronaVac e Astrazeneca. Organizado com apoio do Psol e do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), grupo liderado por Guilherme Boulos (Psol), a manifestação contou com apenas 50 participantes. Foi exibido um boneco do presidente Jair Bolsonaro sujo de sangue, como forma de associa-lo às mortes por coronavírus.

ASSASSINO – O ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB) foi ao Twitter para criticar a atuação do atual governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), pela morte de pacientes pela falta de oxigênio nos hospitais da cidade. “Wilson Lima, você é o pior governador que o Amazonas já teve e o que acontece em Manaus é assassinato aos moldes de Hitler, por asfixia. Isso é doloroso e cruel”, escreveu Virgílio.

Perguntar não ofende: Doria é hipócrita, oportunista ou agiu certo?

Fonte: Blog do Magno Martins.


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